No ano que agora acaba, confirmou-se a mais conhecida das leis de Murphy e, o que podia correr mal, acabou mesmo por correr mal. Sabendo que 2024 pode ser bem pior que 2023, devemos esperar que o próximo seja mesmo mau. Não é uma questão de pessimismo ou de optimismo, é uma questão de estatística. As leis de Murphy não tratam de sorte e azar, tratam de probabilidades.

A guerra na Ucrânia entrou num impasse e as atenções do mundo viraram-se de novo para o Médio Oriente, deixando os ucranianos suspensos de um apoio que tarda em ser aprovado tanto em Bruxelas como em Washington. Olhando para a guerra que começou por ser entre o Hamas e Israel e que Netanyahu rapidamente transformou numa guerra dos israelitas contra os palestinianos, ela representa o azar dos palestinianos serem um joguete nas mãos dos vizinhos árabes e de Israel e é isso que nos dava a quase certeza de que, se a resposta do exército israelita aos crimes terroristas do Hamas podia correr mal, ia mesmo correr mal. Para 2024, é baixa a probabilidade destes dois conflitos ficarem resolvidos e é alta a de nascerem outros conflitos noutros pontos do mundo.

Por cá, como 2023 sucedeu a 2022, o ano da maioria absoluta e dos casos e casinhos, também se sabia que o Presidente da República podia dissolver o Parlamento (o próprio não se cansou de o repetir). Podendo correr mal, acabou por correr pior, porque a dissolução acaba por ser a consequência lógica da demissão do primeiro-ministro, que já era a consequência lógica de uma investigação judicial envolvendo gente muito próxima de António Costa. Para piorar a situação, soube-se no dia seguinte à demissão que tinham sido encontrados 75.800 euros em notas na residência oficial. Esta maioria absoluta nunca foi geradora de estabilidade e atirou o país para um ano que só vai poder comparar com os anos mais quentes do pós-25 de Abril. A comemorar os 50 anos da revolução dos cravos, experimentaremos nesse presente uma marca daquele passado. Veremos se acabará por se passar algo parecido com o que se passou em 1978, ano em que três governos tomaram posse (dois deles de iniciativa presidencial). Até que ponto se confirmará a lei de Murphy?

A instabilidade será tanto maior quanto maior for o peso eleitoral do partido de protesto, a extrema-direita promovida a vedeta da Democracia. Se pode correr mal, vai correr mal e a probabilidade do Chega vir a ter um grupo parlamentar superior a 30 deputados existe. O que vai André Ventura fazer com este poder? Como vão lidar os partidos de centro-direita com esta ameaça? Que sacrifício estará o PS disponível para fazer para evitar que a extrema-direita condicione a governação do país no ano em que celebramos a Democracia? A respostas a estas perguntas determinarão quão mal nos pode correr 2024.

Olhando para Portugal, ficamos com uma ideia do que pode acontecer na Europa, onde a extrema-direita já vai muito adiantada. De França, já chegou a confirmação de que nem é preciso a extrema-direita estar no poder para condicionar as políticas. A marcha-atrás nos direitos dos imigrantes representa apenas uma tentativa de Macron conter a perda de apoio eleitoral, fazendo exatamente o que fariam os que não param de crescer. As eleições para o Parlamento Europeu mostrarão que o populismo (à esquerda mas, sobretudo, à direita) está a tomar conta do velho continente. No outro lado do Atlântico, podendo ser pior, é provável que venha a ser pior. É já certo que Donald Trump não tem rival entre os Republicanos e é muito provável que volte a ser Presidente do país mais poderoso do mundo. Na Divina Comédia de Dante, aberta a porta do Inferno, para os que pretendem entrar fica a advertência: "Deixai toda a esperança, vós que entrais".

As leis de Murphy tratam de probabilidades estatísticas, compete-nos a nós contraria-las. Há sempre esperança. Não podendo votar na Alemanha ou nos Estados Unidos, façamos o trabalho de casa, votando a 10 de Março.

Jornalista

QOSHE - A lei de Murphy em 2024 - Paulo Baldaia
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A lei de Murphy em 2024

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25.12.2023

No ano que agora acaba, confirmou-se a mais conhecida das leis de Murphy e, o que podia correr mal, acabou mesmo por correr mal. Sabendo que 2024 pode ser bem pior que 2023, devemos esperar que o próximo seja mesmo mau. Não é uma questão de pessimismo ou de optimismo, é uma questão de estatística. As leis de Murphy não tratam de sorte e azar, tratam de probabilidades.

A guerra na Ucrânia entrou num impasse e as atenções do mundo viraram-se de novo para o Médio Oriente, deixando os ucranianos suspensos de um apoio que tarda em ser aprovado tanto em Bruxelas como em Washington. Olhando para a guerra que começou por ser entre o Hamas e Israel e que Netanyahu rapidamente transformou numa guerra dos israelitas contra os palestinianos, ela representa o azar dos palestinianos serem um joguete nas mãos dos vizinhos árabes e de Israel e é isso que nos dava a quase certeza de que, se a resposta do exército israelita aos crimes terroristas do Hamas podia correr mal, ia mesmo correr mal. Para........

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