Antes que se despertem desnecessária fúrias ou paixões, quero desde já deixar bem explícito que não pretendo envolver-me em velhas querelas em torno da natureza, ideologia ou forma de funcionamento de qualquer organização presente no nosso “espectro político-partidário”.

Apenas pretendo sugerir a criação de um novo partido, formado por aqueles que nas últimas semanas, têm surgido perante Portugal inteiro como as pessoas mais informadas, lúcidas e competentes, nos mais diversos domínios, para governar o país. Certamente já adivinharam que me estou a referir às comentadoras e comentadores, em especial no campo televisivo, que se dedicam à nobre arte da análise e exegese dos debates realizados entre os líderes das forças políticas já existentes.

Não me refiro apenas a comentadores-residentes há muitos anos nos nossos órgãos de comunicação social, a quem já nos habituámos e que até já escreveram livros com títulos bem claros como O Meu Programa de Governo (José Gomes Ferreira, 2013), Portugal - Manual de Instruções (Ricardo Costa, 2013), Basta! O Que Fazer para Tirar a Crise de Portugal (Camilo Lourenço, 2012) ou mesmo o imperativo Saiam da Frente! (Camilo Lourenço, 2013).

Poderá dizer-se que são todos livros posteriores ao descalabro do resgate financeiro do país e que chegaram tarde, mas isso são claramente detalhes menores perante a forma como demonstram de modo límpido e assertivo, o caminho para tirar Portugal da pobreza e devolvê-lo ao seu lugar de potência maior no panorama económico e político internacional.

Mas, como escrevia, não estou a pensar apenas nesses, mas num mais alargado leque de personalidades que se deveriam congrega num Partido dos Comentadores (Televisivos) Portugueses, o PC(T)P, sigla escolhida com cuidado para se diferenciar de algumas já conhecidas, ou, em alternativa, num inclusivo BCP (Bloco dos Comentadores Portugueses), porque a expressão “Bloco” traz consigo tanto a ideia de algo sólido como, historicamente, entre nós, significa a junção de muita gente, com muitas opiniões divergentes, incluindo um passado mais ou menos remoto de confronto aberto, embora coincidentes no desejo de alcançarem o poder, para fazer o que não sabemos se já foi feito.

Dispondo de cerca de 4000 caracteres para esta crónica, não vou referir, por manifesta impossibilidade, em modo individual e nominal, todos os que se têm destacado ao longo das semanas, dos dias, das horas, em certos momentos crepusculares ou mesmo noctívagos, de forma quase ininterrupta, na escalpelização detalhada e minuciosa dos 15 minutos das intervenções dos líderes partidários tradicionais, com uma panóplia pletórica de considerações sobre tudo o que é relevante para a opinião pública, em estado de pasmo e admiração, formar a sua opinião sobre o que está verdadeiramente em causa, em geral e em todos os particulares.

A esse conjunto de comentadores que nos habituámos a ver, ouvir e idolatrar, vindos do jornalismo que em tempos foi informativo, mas agora é mais marcado por uma reflexividade crítica, foram-se juntando novas aquisições, num claro processo de rejuvenescimento da “classe” (revelando uma atractividade da função que talvez pudesse dar pistas para o problema dos docentes), não esquecendo o nicho mais restrito de politólogos e, mais recentemente, de psicólogos e analistas de linguagem corporal e micro-expressões, que trouxeram mais uma camada de sofisticação à análise, só comparável à de um painel que durante 3-4 horas analisou o abraço dado pelo actual treinador ao ainda presidente de um conhecido clube de futebol.

Por tudo isto e muito mais, que em todos os serões podemos confirmar até à plena saciedade, mais do que uma possibilidade, uma eventualidade ou uma oportunidade, considero que é um imperativo categórico que estas personalidades se unam e se apresentem ao povo português, para que possam ser escolhidos, por certo com maioria superlativamente absoluta, para nos governar como nunca fomos governados, ou seja, por quem efectivamente sabe de política, da comunicação à realização.

Viva, pois, o novo PC(T)P, viva!

QOSHE - Por um novo PC(T)P - Paulo Guinote
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Por um novo PC(T)P

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20.02.2024

Antes que se despertem desnecessária fúrias ou paixões, quero desde já deixar bem explícito que não pretendo envolver-me em velhas querelas em torno da natureza, ideologia ou forma de funcionamento de qualquer organização presente no nosso “espectro político-partidário”.

Apenas pretendo sugerir a criação de um novo partido, formado por aqueles que nas últimas semanas, têm surgido perante Portugal inteiro como as pessoas mais informadas, lúcidas e competentes, nos mais diversos domínios, para governar o país. Certamente já adivinharam que me estou a referir às comentadoras e comentadores, em especial no campo televisivo, que se dedicam à nobre arte da análise e exegese dos debates realizados entre os líderes das forças políticas já existentes.

Não me refiro apenas a comentadores-residentes há muitos anos nos nossos órgãos de comunicação social, a quem já nos habituámos e que até já escreveram livros com títulos bem claros como O Meu Programa de Governo (José Gomes Ferreira, 2013), Portugal........

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