Aproxima-se o 5.º Congresso Eucarístico Nacional, tendo como tema: «Partilhar o Pão, alimentar a esperança – Reconheceram-n’O ao partir o pão» (Lc 24,35).

Os frutos que se esperam de um acontecimento como este dizem respeito, essencialmente, a uma melhor compreensão do que é a Eucaristia, para que a fé nela seja mais sólida e esclarecida, tendo como frutos: uma vivência mais profunda e sentida na celebração deste augusto sacramento; e uma incidência na vida concreta dos cristãos que os leve a serem realmente missionários. A missa não fica cumprida na celebração litúrgica, pois nos envia para realizar na vida concreta das pessoas o «partir do pão», isto é, «participar das suas alegrias e esperanças, angústias e tristezas, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, pois não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração». (Gaudium et Spes, nº 1)

Ora, uma das críticas mais generalizadas, infelizmente com bastante fundamento, é a de que as celebrações eucarísticas são demasiado rotineiras, sem verdadeira dinâmica festiva, sem verdadeira vivência que motive e atraia, quer por parte do presbítero que preside, quer de boa parte, senão da maioria dos membros da assembleia reunida. Há eucaristias dominicais de 25 a 30 minutos que, de verdadeira celebração nada têm, e enfastiam mais que qualquer outra. E há eucaristias de 55 minutos ou mais, que proporcionam gozo espiritual, apreensão do essencial da mensagem veiculada pelos textos da Palavra e da própria eucaristia, e vontade de continuar a saborear em silêncio e intimidade o que se pronunciou, escutou, cantou e observou.

A eucaristia não se compadece com a frivolidade de quem preside e de quem apenas ‘assiste’, como ainda se ouve dizer. Para poder ser realmente o que deve ser: - celebração festiva e gozosa do Sacramento da nossa fé, fonte e cume da vida cristã – exige de quem preside, que o faça com total foco e enfoque nos gestos, nas palavras, nas acções e nos silêncios, sabendo articular bem e diferenciar a entoação das frases, conforme se trate de: saudações, convites à participação no louvor e nas preces; proclamação de hinos, orações, prefácio, epiclese, consagração, doxologia, diálogos e incentivos vários que dirige ao longo da celebração, deixando transparecer que realmente está imerso no Mistério que, por dádiva divina da ordenação sacerdotal ou episcopal, lhe compete presidir e dinamizar da melhor maneira possível. As frases dos diálogos do sacerdote com a assembleia não podem ficar encavalitadas umas nas outras, num frenesim de despachar, sem chama e sem alma, em vez da nobre simplicidade de quem se entrega de alma e coração àquilo que diz, faz, canta e convoca a assembleia a fazer.

Dos fiéis, depois de devida e paciente elucidação sobre o que são chamados a dizer, a cantar, a escutar, a proclamar, a ver e a interiorizar silenciosamente no decorrer da celebração, espera-se que se ouçam uns aos outros, rezando e respondendo com o mesmo ritmo e com uma vivência interior que denote entusiasmo e maravilhamento. Para tal, é preciso dominar bem os tempos das respirações e a profundidade das mesmas, das pausas exigidas pelo próprio texto, tais como: vírgulas, sobretudo nos vocativos; pontos finais, ponto e vírgula, dois pontos, bem como os sinais de interrogação e de exclamação, para que, quanto dizem, cantam e fazem, ganhe pleno sentido, e se manifeste como verdadeiramente saboreado e interpelador para todos, mesmo aqueles que não sabem ou não conseguem participar tão ativamente como seria ideal e desejável.

Infelizmente, há bastantes pessoas que não respondem às saudações, às orações, aos diálogos, às aclamações, à recitação conjunta com o sacerdote de certas partes da liturgia eucarística, com a vivacidade, a convicção e o entusiasmo desejados.

Uma Eucaristia sinodal é aquela em que toda a assembleia celebrante é realmente uma comunidade unida e reunida no Espírito Santo que, movida por Ele, reza e canta de coração cheio e feliz, e exterioriza sem medos o que lhe vai na mente e na alma. Para tal, é preciso saber e interiorizar bem que nós falamos por frases, que devemos pronunciar e articular bem cada palavra ou grupo de palavras, respirar fundo entre as frases, para podermos dar mais alento e vivacidade a cada uma delas, realçando o que deve ser acentuado, exteriorizando a satisfação e alegria íntima assim vividas e manifestadas.

Continua.

QOSHE - Para uma celebração eucarística sinodal – 1 - Carlos Nuno Vaz
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Para uma celebração eucarística sinodal – 1

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11.05.2024

Aproxima-se o 5.º Congresso Eucarístico Nacional, tendo como tema: «Partilhar o Pão, alimentar a esperança – Reconheceram-n’O ao partir o pão» (Lc 24,35).

Os frutos que se esperam de um acontecimento como este dizem respeito, essencialmente, a uma melhor compreensão do que é a Eucaristia, para que a fé nela seja mais sólida e esclarecida, tendo como frutos: uma vivência mais profunda e sentida na celebração deste augusto sacramento; e uma incidência na vida concreta dos cristãos que os leve a serem realmente missionários. A missa não fica cumprida na celebração litúrgica, pois nos envia para realizar na vida concreta das pessoas o «partir do pão», isto é, «participar das suas alegrias e esperanças, angústias e tristezas, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, pois não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração». (Gaudium et Spes, nº 1)

Ora, uma das críticas mais generalizadas, infelizmente com bastante fundamento, é a de que as celebrações eucarísticas são demasiado rotineiras, sem verdadeira dinâmica festiva, sem verdadeira........

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