Nunca estamos verdadeiramente preparados para o acontecimento da morte. Independentemente de a perda ser repentina ou ser consequência de uma doença prolongada, sentimentos de descrença e choque serão sempre sentidos, uma vez que existe sempre a esperança de que algo aconteça, que a pessoa melhore e que aquele “milagre” que ansiamos nos seja concedido. Não adianta dizer ou pensar que estamos preparados… Nunca estaremos!

A perda causa dor, sofrimento, raiva, enfim, um sem fim de emoções difíceis, incontroláveis, contraditórias e confusas que nos podem abalar profundamente. Lidar com a ausência envolve sempre lidar com sentimentos fortes de readaptação e o processo de luto é algo normal, natural e único em cada um de nós. Mesmo se tratando do mesmo tipo de luto, nenhum processo será igual e varia de pessoa para pessoa.

Mas, existem casos em que o indivíduo não consegue enfrentar o luto e os sentimentos impendem-no de viver: são os casos de luto patológico e esses necessitam de um cuidado e atenção especial pois a dor sentida é como uma espiral crescente no interior da pessoa, tornando qualquer tipo de ação rotineira mais difícil ou até incapaz de ser realizada. Para evitar este tipo de luto, é necessário quebrar o tabu e falar sobre perdas e sobre a necessidade de viver o luto de forma mais natural.

O luto patológico está associado a questões de relacionamento do enlutado com a pessoa falecida, ao vínculo estabelecido, à forma como morreu, à sua história de vida, entre variadíssimas outras razões. Sempre que o luto não é vivido ou é adiado, o enlutado vive em negação, não expressando o que sente e bloqueando e reprimindo a sua dor e o seu sofrimento, como se nada tivesse acontecido.

Existem alguns sinais de alerta quando o luto se torna mais complexo e persistente, aos quais devemos estar atentos, nomeadamente:

- Sensação de perda de identidade, que se baseia num sofrimento intenso e existencial acompanhado de forte falta de sentido de vida e que se prolonga no tempo, sem as oscilações esperadas do luto;

- Sentimentos prolongados de vazio e desespero, que se traduzem em alucinações com a pessoa falecida e no desejo constante de morrer, de ir para junto de quem morreu. Caso a pessoa expresse todo um plano, deverá procurar ajuda imediatamente!

- Sentimentos de desorientação que impedem o enlutado de retomar a sua rotina habitual: retoma essa que deve ser realizada de forma gradual;

- Automedicação, ou seja, quando a pessoa em luto desenvolve e/ou intensifica a toma de medicação (não prescrita), tem comportamentos de risco, de uso e abuso de drogas ou álcool, como fuga à dor.

O apoio da família e dos amigos próximos é, sem dúvida, uma mais-valia e fundamental quando se trata de perceber alguns sinais de que algo não está bem com a pessoa enlutada. Denotar comportamentos estranhos, diferentes do habitual e prolongados no tempo que alteram o normal funcionamento do quotidiano é fundamental para o diagnóstico.

Falar sobre o assunto e compreender o que aconteceu, assim como denominar todos os sentimentos que afetam durante o processo de luto é o caminho para a ressignificação das emoções. Caso esteja a passar por um luto ou conheça alguém que esteja a passar por um, conversem sobre o assunto e não tenha receio ou vergonha de procurar ajuda profissional, pois reconhecer a necessidade de seguir em frente é, sem dúvida, o primeiro passo!

QOSHE - Sinais de alerta no Luto - Clarisse Queirós
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Sinais de alerta no Luto

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27.04.2024

Nunca estamos verdadeiramente preparados para o acontecimento da morte. Independentemente de a perda ser repentina ou ser consequência de uma doença prolongada, sentimentos de descrença e choque serão sempre sentidos, uma vez que existe sempre a esperança de que algo aconteça, que a pessoa melhore e que aquele “milagre” que ansiamos nos seja concedido. Não adianta dizer ou pensar que estamos preparados… Nunca estaremos!

A perda causa dor, sofrimento, raiva, enfim, um sem fim de emoções difíceis, incontroláveis, contraditórias e confusas que nos podem abalar profundamente. Lidar com a ausência envolve sempre lidar com sentimentos fortes de readaptação e o processo de luto é algo normal, natural e único em cada um de nós. Mesmo se tratando do mesmo tipo de luto, nenhum processo será igual e varia de pessoa para pessoa.

Mas, existem........

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