Quem circula na cidade de Braga, a pé ou de bicicleta, já terá tido aquela experiência bastante desagradável, e nada saudável, que é ser-se envolvido/a numa nuvem de fumo de um qualquer veículo a motor à sua passagem, daqueles que se fosse mandado a um centro de inspecções era logo chumbado. E mesmo quem circula de carro também se apercebe e não gosta do sucedido. Contudo só nesses casos nos lembramos deste problema que é a poluição excessiva causada pelos motores a combustão. Facilmente esquecemos o problema com as muitas preocupações do dia-a-dia.

Na Braga Ciclável esse problema é visível e vivido todos os dias, sendo uma das nossas maiores preocupações. Não foi então por acaso que nos propusemos a fazer uma análise concreta após a aquisição de equipamentos de medição de qualidade do ar, os quais têm possibilitado efectuar leituras fixas ou móveis deste indicador ambiental.

Sendo eu praticante de atletismo há quase três décadas, vi-me numa posição ingrata, de não poder participar na meia-maratona de Braga de 2023, por lesão. Contudo vi aí uma oportunidade para fazer uma experiência útil no domínio da medição de partículas finas (PM2.5), ou seja partículas em suspensão, com diâmetro inferior a 2,5 micrómetros. Estas partículas estão tristemente associadas a doenças e mortes causadas por doenças cardíacas e/ou pulmonares e são precisamente as PM2.5 as mais nocivas, no caso de exposição prolongada, à nossa saúde (Organização Mundial da Saúde).

Eis que peguei num dos sensores e na manhã da meia-maratona de Braga fiz parte do percurso a pé. Comecei na rotunda do INL, fui até à rotunda do Comendador Santos da Cunha e voltei ao ponto inicial, cerca de 6,5 km. Todo este percurso estava fechado ao trânsito e só esporadicamente passava um carro ou moto, da organização. Mas a experiência estava apenas a metade do objectivo, faltando voltar a fazer o mesmo trajecto num dia normal, com trânsito e à mesma hora, algo que fiz no dia seguinte.

O resultado está expresso no gráfico que acompanha este texto. A curva acima do nível 5 (acima da marcação a tracejado) é a medição da qualidade do ar em dia com trânsito intenso. Verificamos valores de contaminação do ar muito acima do recomendado, ou seja, ar inadequado para a saúde humana. Abaixo do nível 5, temos o registo no dia da prova com trânsito motorizado reduzido. Aqui já verificamos valores de qualidade do ar normais. Não foi propriamente uma surpresa ver a diferença, contudo agora com dados concretos, medidos e confirmados, percebemos, de facto, a realidade crucial, a de que Braga enfrenta um grave problema de poluição.

O que verificamos na curva abaixo de 5, deveria ser o registo normal de qualquer dia do ano e não um registo ocasional de um dia onde o desporto possibilitou respirar a plenos pulmões no centro de Braga.

QOSHE - Respirar em Braga: um caso de estudo sobre poluição e qualidade do ar - João Forte
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Respirar em Braga: um caso de estudo sobre poluição e qualidade do ar

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11.05.2024

Quem circula na cidade de Braga, a pé ou de bicicleta, já terá tido aquela experiência bastante desagradável, e nada saudável, que é ser-se envolvido/a numa nuvem de fumo de um qualquer veículo a motor à sua passagem, daqueles que se fosse mandado a um centro de inspecções era logo chumbado. E mesmo quem circula de carro também se apercebe e não gosta do sucedido. Contudo só nesses casos nos lembramos deste problema que é a poluição excessiva causada pelos motores a combustão. Facilmente esquecemos o problema com as muitas preocupações do dia-a-dia.

Na Braga Ciclável esse problema é visível e vivido todos os dias, sendo uma das nossas maiores preocupações. Não foi então por acaso que nos........

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