A menos de um mês das eleições para o Parlamento Europeu, os portugueses continuam de costas voltadas para o debate, o esclarecimento tão necessário como urgente sobre o que está em causa no próximo dia 9 de junho. Mais grave do que esta alienação, é percebermos, pelos estudos vindos a público, que uma parte importante dos eleitores nem sabe identificar o dia das eleições. Como chegamos a esta grau de alienação? Que motivos estão na origem deste afastamento objetivo que pronuncia uma renúncia de um quarto dos eleitores que já disseram que não vão às urnas? Não há respostas absolutas, mas é claro que não estamos a fazer o que devíamos para mobilizar os cidadãos para mais esta “batalha” que pode ser crucial para o futuro comum. No cerne desta distância perigosa pode estar um problema de comunicação que tem sido uma marca distintiva quer da comissão europeia, quer do parlamento europeu. Não tem faltado informação, mas isso não significa esclarecimento nem vontade de participação. Os canais das redes sociais estão pejados de notícias, de apelos e de referências ao papel da União europeia; os jornais falam da Europa, mas será que escrevem para os portugueses lerem, ou cumprem, apenas, um ritual sem preocupação de perceber se há feedback? As televisões alinham no mesmo diapasão, promovem debates em que os protagonistas falam para o umbigo e restringem o entendimento sobre o que realmente interessa, por não estarem obrigados a isso e porque não consideram o papel pedagógico da sua função. Apesar desta realidade, ninguém se atreve a ensaiar uma mudança de costumes e pelo andar da carruagem, quando chegarmos à campanha eleitoral propriamente dita, falar-se-á de tudo menos da Europa, numa acesa disputa sobre os temas caseiros que, é bom não esquecer, dependem, na sua grande maioria, das decisões europeias. Mas isto parece nem interessar aos candidatos, nem à comunicação social, repetindo-se um cerimonial, eleição após eleição, que tem tudo para ser um desastre cívico, agravado, no caso português, pela data escolhida. Valha ao menos, a decisão tomada de permitir aos que escolhem este período para umas férias curtas, poderem votar em qualquer parte do país. E os outros? Correndo o risco de uma aceleração da abstenção, teremos de fazer muito mais do que apelar ao voto, é preciso falar do que está em causa e como é importante estancar a progressividade do discurso fácil dos extremistas e antieuropeus que, de mansinho, fazem o seu caminho, disputando, nas próximas eleições, um lugar de destaque, capaz de alterar o quadro político no parlamento europeu. Estranhamente, os jovens parecem ser os mais entusiastas europeístas e os que mostram vontade em ter uma palavra a dizer. Aprender a comunicar com eles e com as gerações mais velhas, é fundamental neste percurso que nos resta até ao dia 9 de junho. A massificação do apelo, em diferentes formatos, alicerçada numa informação clara e concreta, é um bem valioso, tem custos, mas vale apena, face ao que está em causa para a Europa comum em geral e para Portugal em particular. Com uma guerra instalada à porta de casa e uma crise económica prolongada, com reflexos para a qualidade de vida dos europeus, os portugueses não estão interessados nas tricas e licas dos partidos; querem decisões que impactem nas suas carteiras e resolvam problemas que são já comuns ao comum dos europeus como é o caso da habitação. Do que se leu e do que se percebeu até agora, nenhuma das candidaturas está a falar para os(as) eleitores(as). Falam para eles, entre eles e com eles. Não se admirem, pois, que o povo continue a ordenar que vão dar uma voltinha ao bilhar grande, mesmo que possam, na praia ou na montanha, na aldeia ou em qualquer lugar de interesse turístico, parar para a exercer o seu direito e dever cívico. O mais certo é que substituam as urnas, por uma boa almoçarada ou um longo passeio, longe de pensarem em Bruxelas ou em Estrasburgo. É bom de ver que esta saga tende a conduzir-nos para uma alienação coletiva que só serve os que querem destruir e não construir; os que preferem o caos à ordem; os que defendem modos e tempo de iliberalizar o bem comum em nome do poder. Saber se conseguiremos inverter esta tendência suicida depressa e bem, parece-se mais, nesta fase, com um jogo de sorte e azar. Ninguém sabe o que vai e se vai ganhar, todos perceberemos o que se pode perder e ou enfraquecer de forma irreversível: A Democracia.

QOSHE - Vão dar uma voltinha ao bilhar grande - Paulo Sousa
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Vão dar uma voltinha ao bilhar grande

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12.05.2024

A menos de um mês das eleições para o Parlamento Europeu, os portugueses continuam de costas voltadas para o debate, o esclarecimento tão necessário como urgente sobre o que está em causa no próximo dia 9 de junho. Mais grave do que esta alienação, é percebermos, pelos estudos vindos a público, que uma parte importante dos eleitores nem sabe identificar o dia das eleições. Como chegamos a esta grau de alienação? Que motivos estão na origem deste afastamento objetivo que pronuncia uma renúncia de um quarto dos eleitores que já disseram que não vão às urnas? Não há respostas absolutas, mas é claro que não estamos a fazer o que devíamos para mobilizar os cidadãos para mais esta “batalha” que pode ser crucial para o futuro comum. No cerne desta distância perigosa pode estar um problema de comunicação que tem sido uma marca distintiva quer da comissão europeia, quer do parlamento europeu. Não tem faltado informação, mas isso não significa esclarecimento nem vontade de participação. Os canais das redes sociais estão pejados de notícias, de apelos e de referências ao papel da União........

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