Os partidos políticos andam a discutir coisas relevantes, mas que têm ganho pouca ou nenhuma atenção. Desde as propostas de choque fiscal, até ao crescimento desmesurado da economia (sem que haja um só economista que diga como se consegue tal desidrato) o que vai sobrando é o tema do dia, o escândalo, o caso e a blague que toldam todas mensagens ponderadas.

Correm os jornalistas atrás de facto piqueno, caídas e subidas de 1% nas sondagens. Nos cafés o que importa é uma só coisa – quem vai governar, quem está em melhor condição para governar.

Pelas sondagens há duas conclusões: 1) Pedro Nuno Santos é, quase sempre, melhor do que Luis Montenegro; 2) os partidos à direita do PS poderão ter, por agora, mais votos e mais deputados que o PS e todos à sua esquerda somados.

É perante esta realidade que se devem antecipar os cenários da governabilidade.

Gostaria que os portugueses não acreditassem no que dizem Luis Montenegro e o PPD. No dia 11 de março, caso o PPD e o Chega tenham 116 deputados, será apresentada ao Presidente da República uma solução de Governo que terá o atual líder laranja como Primeiro-Ministro e o líder do universo tradicionalista, atávico e ultraconservador como Vice.

Passou pela cabeça de muita boa gente que Montenegro iria à sua vida se a AD não fosse a força mais votada e se esta, em conjunto com a Iniciativa Liberal, não tivesse maioria absoluta. Também eu fiz, nestas páginas, uma antevisão do regresso de Pedro Passos.

Porém, os últimos dias têm permitido uma clarificação progressiva da posição do PPD. Já só Marques Mendes acredita no Pai Natal da fuga de Montenegro e esse acreditar tem mais a ver com as presidenciais do que com as legislativas. Os principais colunistas do lado direito vão progressivamente normalizando o Chega e preparando a injeção com que este que nos vai tratar da saúde.

Também as bases do PPD já interiorizaram a realidade de um Governo de Montenegro e Ventura, até porque sentem que dois terços do eleitorado, que os populistas e demagogos conseguirão, serão de votantes do PPD.

Perante este cenário, o PS só tem um caminho. A Pedro Nuno Santos não compete entrar no jogo, ser portador das palavras de ordem contra os ultramontanos e neossalazaristas, antes uma visão moderada, ponderada, de futuro e esperança. Mas devem ser todos os números dois e seguintes a dizer ao eleitorado do centro, votantes entre o PS e o PPD, que a manobra de lobo bom, que Montenegro lhes anda a vender, não passa de dissimulação. Por causa dela Ventura vai em vento em popa.

Que fique claro – ou os democratas e os moderados do centro votam PS, ou no dia 11 de março engolem uma solução que não lhes vai facilitar a vida nos próximos quatro anos. É este o cenário. Que ninguém diga que não sabia.

Se não quiserem acreditar, ainda, esperem pela noite das eleições na Região Autónoma dos Açores. Se o centro-esquerda não tiver maioria absoluta e Bolieiro não tiver os deputados suficientes para formar Governo sozinho, tudo ficará claro.

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Montenegro seria PM e Ventura Vice?

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01.02.2024

Os partidos políticos andam a discutir coisas relevantes, mas que têm ganho pouca ou nenhuma atenção. Desde as propostas de choque fiscal, até ao crescimento desmesurado da economia (sem que haja um só economista que diga como se consegue tal desidrato) o que vai sobrando é o tema do dia, o escândalo, o caso e a blague que toldam todas mensagens ponderadas.

Correm os jornalistas atrás de facto piqueno, caídas e subidas de 1% nas sondagens. Nos cafés o que importa é uma só coisa – quem vai governar, quem está em melhor condição para governar.

Pelas sondagens há duas conclusões: 1) Pedro Nuno Santos é, quase sempre, melhor do que Luis Montenegro; 2) os partidos à direita do PS poderão ter, por agora, mais votos e mais deputados que o PS e........

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