Em 1982, numa altura em que a guerra de Mário Soares com o grupo de jovens dirigentes do ex-Secretariado, de que se destacavam Vítor Constâncio, Jorge Sampaio e António Guterres, era latente, estava eu numa reunião da Comissão Diretiva do PS que iria analisar os processos eleitorais autárquicos.

Sentado ao lado de Maldonado Gonelha e este ao lado de Menano do Amaral, diz este último para Gonelha: - estes jovens vão dar cabo do partido.

Lembrei-me deste momento quando ouvi Álvaro Beleza referir-se a Pedro Nuno Santos como um jovem promissor, uma consideração profundamente paternalista muito parecida com a de Menano.

Quando chegamos a uma certa altura da vida achamos que o que construímos poderá estar em risco com os vindouros, consideramos que estamos a um passo do fim do projeto, que o que vem é péssimo.

O “boto-elasticismo” é ainda mais presente em Portugal, o país onde a matriz de pensamento do Estado Novo está muito presente nas gerações que foram criadas até à década de 1970.

Apesar de se ter afastado da política na década de 1980, Menano ainda viu Constâncio como Vice-Presidente do Banco Central Europeu, Sampaio como Presidente da República e Guterres como Secretário-Geral das Nações Unidas. E nenhum deu cabo do partido, todos contribuíram para o que ele é hoje – um grande partido de Governo.

No mesmo sentido de Beleza foi o meu amigo e antigo presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura da Assembleia da Republica, António Martinho. Perguntou-me: - não será cedo para o Pedro Nuno?

A minha resposta foi calma, simpática, mas o que Martinho me estava a perguntar não fazia qualquer sentido.

Pedro Nuno tem 46 anos. Claro que nasceu depois do 25 de abril, claro que teve posições muito mais à esquerda quando era líder da Juventude Socialista, como sempre foi habitual nesta estrutura ao longo do tempo. Mas Pedro Nuno de hoje não é, não pode ser, o mesmo do início da década passada, ninguém é o mesmo aos 30 e aos 40 anos.

Ainda é cedo? Não, não é!

Mas fui à História, esse repositório de informação que nos resolve muitos problemas do presente.

Francisco Sá Carneiro nasceu em 1934 e chegou a primeiro ministro em 1980 – tinha 46 anos; Aníbal Cavaco Silva nasceu em 1939 e chegou a primeiro ministro em 1985 – tinha 46 anos; António Guterres nasceu em 1949 e chegou a primeiro ministro em 1995 – tinha 46 anos; Durão Barroso nasceu em 1956 e chegou a primeiro ministro em 2002 – tinha 46 anos; Pedro Passos nasceu em 1964 e chegou a primeiro ministro em 2011, com 46 anos de idade e a um mês de fazer 47. Pedro Nuno tem 46 anos.

Conviria, portanto, que não se eternizasse a visão irritantemente condescendente que temos, os velhos, sobre as novas gerações que são o futuro, gente com filhos e vidas feitas, pessoas que já são implicadas, de forma determinante, pela ponderação que o tempo sempre acrescenta.

Não sei se é karma esta coisa de a maioria dos primeiros ministros ter chegado à governação com 46 anos. Se for, então teremos Pedro Nuno a suceder a António Costa. Seria muito bom para Portugal que isso acontecesse.

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Os 46 anos de Pedro Nuno Santos

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16.11.2023

Em 1982, numa altura em que a guerra de Mário Soares com o grupo de jovens dirigentes do ex-Secretariado, de que se destacavam Vítor Constâncio, Jorge Sampaio e António Guterres, era latente, estava eu numa reunião da Comissão Diretiva do PS que iria analisar os processos eleitorais autárquicos.

Sentado ao lado de Maldonado Gonelha e este ao lado de Menano do Amaral, diz este último para Gonelha: - estes jovens vão dar cabo do partido.

Lembrei-me deste momento quando ouvi Álvaro Beleza referir-se a Pedro Nuno Santos como um jovem promissor, uma consideração profundamente paternalista muito parecida com a de Menano.

Quando chegamos a uma certa altura da vida achamos que o que construímos poderá estar em risco com os vindouros, consideramos que estamos a um passo do........

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