O homem-forte é uma espécie de fantasma que paira sobre as democracias bem-intencionadas. E sobre os desejos e emoções dos eleitores. A força tem sido designada como uma característica a abolir por legiões de pseudocientistas e doutores em ciências ditas do comportamento, os especialistas encartados da alma humana, acolitados por doutrinários e súbditos das teorias new age do pacifismo, do reencontro com a natureza bondosa, da meditação que expele o mal do pensamento e da velhíssima teoria rousseauniana do bom selvagem, que é ciclicamente recuperada para fins ínvios. Mais a legião dos falsos profetas do bem-estar, da harmonia e das “boas energias”.

Ser forte ganhou, na política, conotações nazis, fascistas e autoritárias, ou militaristas, a marca de água do tirano. Nasceu, por contraponto, uma indústria da vitimização. A vítima, presume-se que da força, teria todos os direitos e seria a nova força social dominante. Tal como o bom selvagem, a vítima teria sempre razão e a entronização de uma pessoa como vítima de alguém ou alguma coisa, incluindo as formas extremas do colonialismo ou da violação, conferia-lhe direitos autoritários e potestativos sobre as vidas de pessoas logo consideradas carrascos ou colonizadores. A figura do perseguido, sobretudo o perseguido que usa uma “perseguição” histórica como trunfo, tornou-se imperial. Intocável.

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QOSHE - A atração do homem-forte - Clara Ferreira Alves
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A atração do homem-forte

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19.01.2024

O homem-forte é uma espécie de fantasma que paira sobre as democracias bem-intencionadas. E sobre os desejos e emoções dos eleitores. A força tem sido designada como uma característica a abolir por legiões de pseudocientistas e doutores em ciências ditas do comportamento, os especialistas encartados da alma humana, acolitados por doutrinários e súbditos das teorias new age do pacifismo, do reencontro com a........

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