Se dúvidas existiam sobre o sucesso do projeto europeu, a situação em várias geografias por contraste com a realidade entre os 27 veio confirmar que o principal indicador de bem-estar, a Paz, continua a fazer do espaço da União Europeia um verdadeiro paraíso quando comparado com outras realidades cada vez mais próximas.

A escalada de violência no Médio Oriente coloca num segundo plano a situação na Ucrânia, não só pelo risco nuclear que representa, mas sobretudo porque além da guerra convencional e direta entre Israel e Gaza a verdade é que este conflito se alastra a muitos outros países e mesmo regiões, já que a guerra por procuração é cada vez mais uma realidade e até os navios europeus são atacados por milícias patrocinadas pelo Irão.

Com os Estados Unidos em plena campanha eleitoral e a Rússia em guerra com a Ucrânia, sobram a União Europeia e a China como únicos atores internacionais “livres” e com capacidade de influência. Se sabemos que a China não é propriamente nem uma democracia nem tem uma agenda transparente, resta a União Europeia e os seus Estados-Membros para tentar mediar este conflito e evitar uma escalada da crise ou mesmo uma terceira guerra mundial.

A habitual dificuldade europeia, ou talvez a sua maior força mas já lá vamos, é o facto de nem sempre falar a uma só voz em matéria de política externa. Resta refletir se, ao contrário do desejável, têm mais impacto os líderes de cada Estado Membro por si do que a voz de todos em conjunto através de Josep Borrell. Se sempre desejamos uma Europa a uma só voz, desta vez talvez seja mais útil termos muitas vozes com o mesmo discurso. É mais útil ter Macron, Scholz, Meloni, Mitsotakis e até Sunak (apesar de estar fora da UE), entre tantos outros alinhados e com o mesmo objectivo (acabar com a escalada da guerra) e com a mesma estratégia.

Se é verdade que a Europa já não tem na Alemanha uma figura com o peso de Merkel, a verdade é que a política externa da UE tem hoje um conjunto de instrumentos e mecanismos que nos permite estar mais próximos de todos estes países e com maior conhecimento das regiões. Este é o momento de demonstrar que todo esse investimento, em recursos mas também em capital político valeu a pena.

Mais do que nunca, o Mundo precisa de uma Europa firme, alinhada a várias vozes e com capacidade de imposição da força suficiente que sirva de elemento dissuasor de uma escalada do conflito que parece cada vez mais inevitável. Tanto a fragilidade política de Benjamim Netanyahu como o radicalismo do Irão são demasiado perigosos para o curso deste conflito.

Nunca como hoje, o mundo esperou tanto da União Europeia o desempenho do papel de adulto na sala. Mas também nunca o mundo precisou tanto da UE como agora.

QOSHE - A vez da Europa como adulto na sala - Duarte Marques
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A vez da Europa como adulto na sala

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16.04.2024

Se dúvidas existiam sobre o sucesso do projeto europeu, a situação em várias geografias por contraste com a realidade entre os 27 veio confirmar que o principal indicador de bem-estar, a Paz, continua a fazer do espaço da União Europeia um verdadeiro paraíso quando comparado com outras realidades cada vez mais próximas.

A escalada de violência no Médio Oriente coloca num segundo plano a situação na Ucrânia, não só pelo risco nuclear que representa, mas sobretudo porque além da guerra convencional e direta entre Israel e Gaza a verdade é que este conflito se alastra a muitos outros países e mesmo regiões, já que a guerra por procuração é cada vez mais uma realidade e até........

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