As eleições de junho não definem apenas quem serão os portugueses que vão passar a representar-nos no Parlamento Europeu, como se isso fosse apenas algo simbólico. Se no seu início o hemiciclo de Estrasburgo era apenas uma espécie de “prateleira dourada” ou “exílio” de políticos em fim de carreira, é hoje lá que se decide grande parte das vida dos cidadãos europeus e em particular dos portugueses.

Ao longo das diversas revisões dos tratados europeus, o Parlamento foi a instituição europeia que mais viu reforçados os seus poderes, as suas competências e o seu papel na decisão das grandes reformas europeias. Hoje, acrescente-se a isso, cerca de 70% das medidas em vigor no território dos Estados Membros ou foi decidida em Bruxelas, tanto pelo Conselho como pelo Parlamento Europeu, ou é influenciada e resulta de medidas decididas em Bruxelas.

Numa época em que os populismos crescem sem travão e que mesmo alguns habituais moderados usam a Europa como arma de arremesso ou desinformação, urge olhar para o projeto europeu com responsabilidade, sentido de Estado mas também com irreverência.

Demasiadas vezes nos resignamos perante os factos consumados e isso é recorrente perante estruturas e projetos consolidados e com sucesso já reconhecido. Mas também é preciso garantir que é a capacidade de liderar a própria mudança que faz com que as organizações ou as equipas ou as empresas continuem a ter sucesso. É por essa razão que é necessária coragem para conseguir continuar a reformar a União Europeia mas sobretudo as políticas europeias.

Nunca como hoje a vida dos portugueses e dos europeus dependeu tanto das instituições europeias e é por essa razão que somos obrigados a levar estas eleições muito a sério e a evitar cair na tentação de “nacionalizar” o debate. Parece um contra senso quando atrás disse que as regras nacionais são cada vez mais europeias, mas temos de ter a capacidade, os políticos mas também a imprensa, de dar destaque e respeitar a perspetiva europeia dos temas que interferem na vida dos portugueses.

A renovação das listas dos partidos ao Parlamento Europeu é um primeiro passo, quiçá fundamental, para continuar a promover não só a defesa do projeto europeu, mas também para vincar o cunho português europeísta naquilo que é o futuro desta Europa que não pode ser tão burocrática, nem tão distante nem demasiado próxima. A Europa não tem de ser popular, basta-lhe ser eficaz e competente.

QOSHE - Levar as europeias a sério - Duarte Marques
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Levar as europeias a sério

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23.04.2024

As eleições de junho não definem apenas quem serão os portugueses que vão passar a representar-nos no Parlamento Europeu, como se isso fosse apenas algo simbólico. Se no seu início o hemiciclo de Estrasburgo era apenas uma espécie de “prateleira dourada” ou “exílio” de políticos em fim de carreira, é hoje lá que se decide grande parte das vida dos cidadãos europeus e em particular dos portugueses.

Ao longo das diversas revisões dos tratados europeus, o Parlamento foi a instituição europeia que mais viu reforçados os seus poderes, as suas competências e o seu papel na decisão das grandes reformas........

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