Os primeiros debates das legislativas têm tido o seu interesse, acredito que as audiências têm sido boas e os líderes dos partidos têm-se empenhado em fazer boa figura. A verdade é que os debates, além de ajudarem os partidos a passar a sua mensagem, têm garantido também conteúdos baratos e interessantes para a imprensa, sobretudo para os painéis de comentadores, permitindo ir aquecendo a “fornalha” eleitoral.

No entanto, o formato escolhido é curto para a quantidade de problemas existentes que merecem discussão e análise. Bem sei que com tantos debates não haveria espaço ou paciência para tanta “política” mas se a seguir temos horas de comentário então o argumento da “falta de tempo na grelha” não se justifica. Eu preferia ouvir mais tempo de qualquer um dos líderes do que comentários de tanta gente que nunca fez um debate na vida ou de jornalistas e comentadores sem qualquer experiência na matéria.

Por outro lado, é recorrente ouvir dizer que o candidato não falou deste ou daquele tema. Não é só nos debates, é quase sempre nas entrevistas. Pois, mas são os jornalistas ou moderadores que escolhem os temas, que fazem as perguntas. Por exemplo, a educação (como bem escreveu a Margarida Balseiro Lopes no seu artigo desta semana no Jornal de Notícias) tem ficado completamente fora do debate eleitoral como se não fosse um elemento essencial da nossa comunidade e um problema gravíssimo que o país apresenta. Espero que estes textos sirvam de alerta para os próximos debates pois se queremos responsabilizar os políticos com os seus compromissos eleitorais não podemos permitir que áreas essenciais como a Educação fiquem de fora deste período até porque os disparates feitos neste sector foram tantos nos últimos 8 anos que parece um frete ao Partido Socialista, à BE e ao PCP não tocar no assunto.

Outro tema que parece ficar de fora dos debates é a política europeia e as opções que cada partido fará. Numa altura em que o investimento público é quase 90% dependente dos fundos europeus era crucial saber o que pensa cada um dos partidos sobre as opções feitas em matéria de construção europeia, opções pelos fundos estruturais, política monetária, defesa, entre tantos outros temas. Se nos preocupamos com o radicalismo do Chega em algumas matérias também era salutar conhecer os compromissos do BE e do PCP em matéria europeia e de defesa.

Outra sugestão que deixava para os debates era um sistema de verificação de factos no momento. Bem sei que não é possível verificar tudo num hiato de segundos mas muita coisa é possível verificar com os peritos certos atentos. Alguns canais estrangeiros já o fazem e cada vez que um interveniente diz um facto errado acende uma espécie de luz vermelha a dizer “fake news”, “falso”, “conteúdo duvidoso ou sujeito a confirmação”. Não se trata de um VAR que interrompe o debate e estraga a emoção. Este modelo pode ser feito com um painel de especialistas diversificado que no momento permite ao canal em causa levantar esse alerta. Até poderia ser o mesmo painel para todos os canais. Com alguns dos nossos protagonistas as “red flags” apareceriam de 20 em 20 segundos.

QOSHE - O que tem faltado nos debates? - Duarte Marques
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O que tem faltado nos debates?

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14.02.2024

Os primeiros debates das legislativas têm tido o seu interesse, acredito que as audiências têm sido boas e os líderes dos partidos têm-se empenhado em fazer boa figura. A verdade é que os debates, além de ajudarem os partidos a passar a sua mensagem, têm garantido também conteúdos baratos e interessantes para a imprensa, sobretudo para os painéis de comentadores, permitindo ir aquecendo a “fornalha” eleitoral.

No entanto, o formato escolhido é curto para a quantidade de problemas existentes que merecem discussão e análise. Bem sei que com tantos debates não haveria espaço ou paciência para tanta “política” mas se a seguir temos horas de comentário então o argumento da “falta de tempo na grelha” não se justifica. Eu preferia ouvir mais tempo de qualquer um dos líderes........

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