A AD venceu, o que é bom para a alternância na democracia; mas não venceu por muitos nem terá vida fácil. O PS perdeu, o que é normal depois de oito anos de Governo e com todas as trapalhadas que conheceu. O Chega tornou-se um partido antissistema com que, infelizmente, é necessário contar – o que é diferente de transportá-lo para a área do poder.

Uma aliança da AD com a IL tem, apenas, como garantia que o partido de André Ventura e o PS não têm o mínimo interesse em confundir-se ou convergir. Assim sendo, só uma crise muito significativa, ou um acontecimento inesperado, os levariam a entender-se sobre a queda de um Governo de Luís Montenegro.

A alternância é boa para o país e para a democracia; já o populismo não lhe faz bem nenhum. E, no entanto, os democratas, sejam de que cor foram, não podem desistir de, isolando a extrema-direita populista, darem atenção às razões que levou tanta gente a votar no Chega.

Isso significa, por exemplo, um maior escrutínio de todos os atos da administração; um combate sério e decidido à corrupção e ao enriquecimento ilícito; uma reforma séria da Justiça, uma atenção total à Saúde e Educação e, talvez, uma maior moderação no avanço das questões de género, que pareciam ir bastante à frente de boa parte do país.

Por outro lado, o PS, seja qual for o seu líder, tem de apostar na moderação. Os socialistas são a grande e quase exclusiva força da esquerda, uma vez que todos os outros pouco contam, mesmo somados. O partido não tem, agora, grandes apoios à sua esquerda e se quer recuperar votos, o seu caminho tem de se alterar. Por outro lado, o PSD, se pretende manter o poder, até com um apoio superior ao que teve, e que se traduziu numa vitória escassa, tem olhar para o centro, sem desprezar as causas do crescimento do Chega.

Por último, o Chega, ou André Ventura que é 99% do Chega, tem de optar, também ele: quer moderar-se e ser uma direita democrática? Ou quer manter-se fora do sistema, como grupo de denúncia e contestação, sem fazer quaisquer concessões aos partidos centrais?

A maioria das respostas só as teremos, provavelmente, no debate do Orçamento. Até lá, já se sabe que o PS nada fará quanto à constituição e programa do Governo, e que o Chega, faça o que fizer, nada conseguirá.

No ano dos 50 anos do 25 de Abril, há um dado positivo: a diminuição da abstenção. Mas há um aspeto muito negativo: a ameaça do extremismo, que em Portugal só se conhecera de esquerda e não com esta configuração.

Essa ameaça, pese as tendências europeias que vão no mesmo sentido, pode ser afastada. Assim saibam o PSD, os partidos da AD, o IL, mas também o PS, manter a firmeza, afastando os temas que fraturam os democratas e, pelo contrário, sublinhar aqueles que os unem.

Claro que isto é otimista. Pode até ser irritante, mas sem confiança nunca teria havido 25 de Abril.

QOSHE - Uma ligeira vitória, uma pequena derrota e uma grande ameaça - Henrique Monteiro
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Uma ligeira vitória, uma pequena derrota e uma grande ameaça

7 2
11.03.2024

A AD venceu, o que é bom para a alternância na democracia; mas não venceu por muitos nem terá vida fácil. O PS perdeu, o que é normal depois de oito anos de Governo e com todas as trapalhadas que conheceu. O Chega tornou-se um partido antissistema com que, infelizmente, é necessário contar – o que é diferente de transportá-lo para a área do poder.

Uma aliança da AD com a IL tem, apenas, como garantia que o partido de André Ventura e o PS não têm o mínimo interesse em confundir-se ou convergir. Assim sendo, só uma crise muito significativa, ou um acontecimento inesperado, os levariam a entender-se sobre a queda de um Governo de Luís Montenegro.

A alternância é boa para o país e para a democracia; já........

© Expresso


Get it on Google Play