Vale a pena voltar ao tema. Apesar de ter começado a minha carreira enquanto intelectual à direita, irei terminá-la à esquerda – sem mudar muito no essencial das perspetivas e convicções. Ou seja, mantendo sempre o essencial da minha posição liberal clássica (a tradição do direito natural é por inerência imóvel), eu comecei à direita em 2005, mas estarei à esquerda em 2045, porque tudo à minha volta mudou e continuará a mudar; num mundo marcado por vitalismos identitários aplicados às nações, eu sou empurrado para a esquerda, tal como a tradição liberal, tal como Lincoln - se ressuscitasse hoje, o fundador dos republicanos só podia votar Biden e Obama. As coligações e alianças e até os conceitos de esquerda e direita estão a mudar.

Nada disto é novo, diga-se. Edmund Burke foi durante dois séculos (séculos XIX e XX) a base do conservadorismo anglo-saxónico. Mas Burke, no seu tempo (século XVIII), foi de esquerda, foi um whig contra os tories; um defensor do respeito pela Índia; compreendia muito bem as exigências das colónias americanas, até porque era irlandês. Foi o radicalismo da revolução francesa que o atirou para a direita. Mas creio que passados mais de dois séculos estamos a voltar a um tempo em que o velho whig volta a casa.

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Acabarei a minha carreira à esquerda

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21.02.2024

Vale a pena voltar ao tema. Apesar de ter começado a minha carreira enquanto intelectual à direita, irei terminá-la à esquerda – sem mudar muito no essencial das perspetivas e convicções. Ou seja, mantendo sempre o essencial da minha posição liberal clássica (a tradição do direito natural é por inerência imóvel), eu comecei à........

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