Nas nossas conversas, ele insistia num ponto: mas porque é que você é de direita?, você escreve tão bem, só é uma pena ser de direita! Esta farpa porém não era cravada na carne, ficava só ali pousada na mesa. Com a mesma cortesia, eu tentava responder, Mas isso interessa para quê?, Num tempo de radicais, então não é bom conseguirmos falar? E falávamos bastante sobre cinema, sobre o Benfica, sobre literatura, sobre filhos e netos, até sobre fé. Não seria um homem de fé no sentido religioso do termo, mas as suas posições e até os seus filmes tinham algo que me interessa acima de tudo: uma esperança à Camus, uma resistência ao cinismo que nos permite ver além da circunstância, que nos permite atravessar o mal sem perdermos a humanidade. Neste sentido, o cinema de António-Pedro Vasconcelos contribuiu muito para a minha formação enquanto ser humano, enquanto português e enquanto autor. Destaco sobretudo dois filmes que me marcaram bastante, porque — na época — foram duas pedradas narrativas num cinema português demasiado estático, pseudo e afastado dos portugueses enquanto povo: “Jaime” e “Os Imortais”.

Artigo Exclusivo para subscritores

Subscreva já por apenas 1,73€ por semana.

QOSHE - António-Pedro Vasconcelos - Henrique Raposo
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

António-Pedro Vasconcelos

13 0
22.03.2024

Nas nossas conversas, ele insistia num ponto: mas porque é que você é de direita?, você escreve tão bem, só é uma pena ser de direita! Esta farpa porém não era cravada na carne, ficava só ali pousada na mesa. Com a mesma cortesia, eu tentava responder, Mas isso interessa para quê?, Num tempo de........

© Expresso


Get it on Google Play