Numa entrevista ao The Guardian, a atriz Jodie Foster teceu duras críticas à geração Z. Foster diz que as pessoas que nasceram desde o fim dos anos noventa até ao início da década de 2010 são "muito irritantes, sobretudo no local de trabalho. São do género: ‘hoje não me apetece entrar cedo, chego às 10 e meia’". Aí está, a velha guerra geracional. Pelas fotografias, nunca diria que Jodie Foster já tem mais de sessenta anos. Pelas declarações, até me dá ideia que é mais velha. Jodie Foster saltou para a ribalta com Taxi Driver; agora, fala como um taxista.

Prossegue a estrela de O Silêncio dos Inocentes: “nos e-mails que enviam, respondo-lhes que está tudo gramaticalmente incorreto, pergunto se não verificaram a ortografia". Ou seja, Jodie Foster classifica um grupo de pessoas de “irritante”, para imediatamente a seguir revelar que responde a e-mails corrigindo erros ortográficos e gramaticais - coisa que só as pessoas irritantes fazem.

Jodie Foster não se ficou por aí: "os jovens são altivos porque ainda não foram humilhados pela vida, nem experimentaram a força das circunstâncias. Pensam que sabem tudo e estão sempre bastante seguros disso". Estou a brincar, estas duas frases não foram ditas por Jodie Foster. Foram escritas por Aristóteles, na Retórica, no século IV a.C.. É que a conversa de "esta geração está perdida" não é só antiga, é a mesma desde a Antiguidade.

Jodie Foster nasceu em 1962. É, segundo o que se convencionou serem as balizas geracionais, uma boomer. Os boomers são a Gen Z do século XX, uma vez que também eram apelidados de mimados, privilegiados, preguiçosos e ingratos pelos mais velhos, que consideravam que os jovens da altura tinham a vida facilitada e que não tinham tido de passar por dificuldades. É interessante que esta “geração perdida” se tenha encontrado a tempo de vir assegurar que a nova geração está perdida.

Afirmar que toda uma geração de jovens é mimada é a mesma coisa que afirmar que toda uma geração de pais é negligente. E o que eu sei é que Jodie Foster adormeceu no avião em Flightplan, permitindo o rapto de uma criança da Geração Z... não é por nada, estou só a dizer.

Sociologia de bolso sobre gerações é um exercício contraproducente, generalizante e enviesado pela erosão da memória da nossa própria juventude. Só há uma coisa de que podemos ter a certeza sobre estes jovens de hoje em dia. É que é garantido que se vão tornar em velhos que dizem expressões como "estes jovens de hoje em dia".