Um necessário alerta ao círculo próximo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: malta, têm de fazer uma intervenção - o vosso amigo está viciado em dissolver. Dissolveu em novembro a Assembleia da República, dissolveu em Dezembro a Assembleia Regional dos Açores. Agora, as circunstâncias só lhe permitem voltar a dissolver um parlamento daqui a dois meses e é notório que está a ressacar. Alguém que lhe dê um referendo para convocar - pode ser que funcione como metadona.

O Correio da Manhã avançou e o Expresso confirmou que Marcelo tem intenções de convocar novas eleições na Madeira. Num ano para o qual estava agendada apenas uma eleição, vão ter lugar afinal quatro atos eleitorais. Uma coisa é a democracia exigir que as pessoas se mobilizem de vez em quando, outra é tornar-se naqueles amigos do trekking que querem sempre arrastar-nos para fora de casa ao fim-de-semana. Com a falta de professores, é provável que em 2024 as escolas tenham mais movimento aos domingos do que durante os dias úteis. Com tanto boletim, cartaz e panfleto a ser produzido, não admira que cheire intensamente a pasta de papel em Lisboa.

Em março de 2022, Marcelo leu mal o futuro político do país. Provavelmente julgava, tal como nós, que em 2024 só haveria uma ida às urnas - as eleições europeias. Preocupado com a possibilidade de Costa aproveitar esse momento para agarrar um cargo em Bruxelas, deixando a governação nacional a um herdeiro, o Presidente vinculou a maioria absoluta à sobrevivência política do chefe de governo. Essa garantia forçou Marcelo a dissolver a assembleia após a demissão do primeiro-ministro em novembro, não permitindo uma substituição na liderança do executivo.

Agora, a coerência que forçou, apesar de grande resistência, Miguel Albuquerque a demitir-se, tal como Costa fez, obriga também Marcelo a dissolver a assembleia madeirense. Da mesma forma que, daqui a dois meses, se das legislativas resultar uma maioria de direita, mas também uma vitória do PS e a consequente (caso não falte à palavra) saída de cena de Luís Montenegro, Marcelo está impedido de aceitar que PSD escolha um novo primeiro-ministro que não foi a eleições. Como é que se resolve o imbróglio? Mais uma voltinha, mais uma dissolução, mais um sofrível sufrágio.

Quando, há dois anos, o PS conquistou uma inesperada maioria absoluta, Marcelo receou que o fim da sua presidência se tornasse extremamente aborrecido. Qual foi a solução? Ameaçar com dissolução. Uma panaceia para acabar com a pasmaceira. É suposto ser uma bomba atómica, Marcelo transformou a dissolução numa almofada de puns.

QOSHE - Marcelo tem a dissolução para tudo - Manuel Cardoso
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Marcelo tem a dissolução para tudo

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30.01.2024

Um necessário alerta ao círculo próximo do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa: malta, têm de fazer uma intervenção - o vosso amigo está viciado em dissolver. Dissolveu em novembro a Assembleia da República, dissolveu em Dezembro a Assembleia Regional dos Açores. Agora, as circunstâncias só lhe permitem voltar a dissolver um parlamento daqui a dois meses e é notório que está a ressacar. Alguém que lhe dê um referendo para convocar - pode ser que funcione como metadona.

O Correio da Manhã avançou e o Expresso confirmou que Marcelo tem intenções de convocar novas eleições na Madeira. Num ano para o qual estava agendada apenas........

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