O homem mais justo do nosso tempo — Jorge Bergoglio, o Papa Francisco — explicou na sua homilia de Natal a razão principal para que a guerra da Ucrânia não tenha fim à vista: porque é um excelente negócio para os vendedores de armas. Acrescentou que com parte desse dinheiro gasto em armas poderíamos erradicar a fome do mundo, mas há líderes mundiais que preferem investir na guerra e na morte do que em salvar vidas — vidas ceifadas pela fome, no século XXI. Em Gaza, disse o Papa, vemos todos os dias ­crianças a serem massacradas debaixo de bombas perante a indiferença ou a inércia dos que dizem defender os direitos humanos. Mas em Gaza perdeu-se a noção de humanidade e a própria noção de vida humana. Em Telavive, os discursos do Papa contra a guerra e os seus apelos lancinantes ao fim do massacre, tais como os de António Guterres, devem ser vistos como apoio aos terroristas do Hamas. Ali, tudo é cristalinamente claro: nem tréguas, nem auxílio, nem qualquer ajuda para aquela gente. Depois de já ter matado 168 trabalhadores das agências humanitárias da ONU com os seus “bombardeamentos de precisão”, Israel acaba de anunciar que não renovará os vistos de permanência aos que restam nem passará vistos a novos voluntários da ONU, essa organização que é “cúmplice do terrorismo”. Os palestinianos que morram sozinhos e de preferência sem testemunhas. No tempo do Estado Novo e da Guerra Colonial, também nós nos declarámos “orgulhosamente sós” contra o mundo inteiro que nos condenava na ONU, mas, e apesar dos massacres iniciais dos “terroristas” no Norte de Angola, que desencadea­ram as guerras, nunca estivemos sequer próximos deste patamar de bestialidade: houve, nas lonjuras perdidas de Wiriyamu, um massacre de uma aldeia executado por uma companhia descomandada, mas jamais qualquer coisa que se assemelhasse a um massacre diário de todo um povo levado a cabo metodicamente e como política de extermínio assumida pelo Governo.

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O que eu queria para 2024

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30.12.2023

O homem mais justo do nosso tempo — Jorge Bergoglio, o Papa Francisco — explicou na sua homilia de Natal a razão principal para que a guerra da Ucrânia não tenha fim à vista: porque é um excelente negócio para os vendedores de armas. Acrescentou que com parte desse dinheiro gasto em armas poderíamos erradicar a fome do mundo, mas há líderes mundiais que preferem investir na guerra e na morte do que em salvar vidas — vidas ceifadas pela fome, no século XXI. Em Gaza, disse o Papa, vemos todos os dias ­crianças a serem massacradas debaixo de bombas........

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