O tempo excessivo de espera de uma consulta das várias especialidades é um dos problemas que afeta muitos dos portugueses.

Não fazer nada e deixar os portugueses sem acesso aos cuidados diferenciados de saúde não é solução, mas uma solução meramente tipo “penso rápido” também não resolve os problemas dos doentes. As mudanças estruturais do sistema sem a existência de uma capacidade adicional de resposta rápida, também não resolve o problema de quem espera por uma consulta atualmente.

Uma opção que tem sido colocada como possibilidade é a externalização do serviço do SNS para o setor privado lucrativo ou social da saúde, no entanto para as consultas essa solução possui vários problemas estruturais e pode colocar em causa o SNS e a sua capacidade de resposta a curto prazo.

Sem qualquer demagogia ou dogma entre setor público e social, partindo, contudo, do princípio de que o SNS é essencial na nossa sociedade, como foi bem visível numa situação de crise como na pandemia COVID, analisemos esta situação friamente e com o único objetivo de garantir os melhores cuidados aos doentes.

A vantagem de dar um “cheque consulta” aos utentes do SNS, que não possuam a resposta em tempo útil, abre a possibilidade de estes poderem recorrer ao setor privado e obter a sua consulta. Poderia resolver o problema de acesso imediato a um especialista, partindo do princípio de que o setor privado da saúde possui a capacidade de resposta imediata, situação que é no mínimo muito duvidosa. Acresce-se ainda que após uma primeira consulta são solicitados exames e é necessária avaliação e seguimento dos utentes em consultas subsequentes.

Temos então aqui outro problema, quem pagaria esses exames e onde seriam realizados? E as consultas subsequentes, voltariam para o SNS e teríamos os utentes agora em lista de espera de segundas consultas? Ou estaremos a falar de uma externalização em grande escala e mantida dos serviços do SNS para o setor privado? Esta última opção iria acabar por aumentar a pressão nos privados, que naturalmente iriam aumentar a competição pelos médicos especialistas e o SNS perderia mais especialistas ainda, reduzindo desta forma a sua capacidade, o que se não fosse travado algures no tempo levaria a uma redução muito significativa do SNS e do seu nível de cuidados.

Qual será então a solução? Não fazer nada e esperar por alterações estruturais? As pessoas merecem muito mais que isto. Proponho desta forma uma solução alternativa com uma resposta imediata do SNS, um Plano de Emergência do SNS para as listas de espera de consultas.

Para que isto aconteça, basta que se deixem os múltiplos interesses que circulam em torno do setor da saúde e nos foquemos na resolução do problema das pessoas.

Proponho assim o Plano de Emergência do SNS para as Consultas de Especialidade:

1- Aumentar a capacidade de resposta do SNS em regime de produção adicional pelos profissionais do SNS (que neste caso, na sua maioria até são os mesmos que iriam dar a resposta no setor privado), para isso é necessário:

a) Pagar aos profissionais o mesmo montante que iam receber por cada consulta no setor privado pela contratualização externa (desta forma o custo é o mesmo);

b) Realizar estas consultas nas instalações e com o apoio do SNS, evitando a deslocação dos profissionais;

c) Garantir que a contratualização ocorre quer para as primeiras consultas quer para as consultas adicionais necessárias para o seguimento dos utentes (algo que não existe na atualidade);

d) Garantir que existe também a possibilidade de fazer o mesmo para os exames de diagnóstico, com contratualização aos técnicos e aos médicos necessários para os realizar, ao mesmo preço que são pagos aos convencionados.

2 - Definir critérios de triagem adequados de âmbito nacional, garantindo equidade de acesso e evitando deslocações desnecessárias, sem colocar em causa o seu tratamento adequado;

3 - Após esgotar toda a capacidade do SNS, após aplicação das medidas referidas anteriormente, contratualizar então serviços com o setor privado de saúde, garantindo uma solução para o seguimento dos doentes e não apenas para as primeiras consultas.

A solução aqui apontada não existe na atualidade, contudo parte de possibilidades existentes na atualidade e não idealismos ou soluções incompletas e pouco concretas. É necessário que sejam autorizadas e que sejam instruídas as administrações hospitalares para implementar estas medidas.

Há uns dias perguntaram-me: se é possível porque não se faz? A resposta é que para se fazer é necessário haver interesse em nos focarmos realmente nas pessoas e deixarmos de lado todos os restantes interesses instalados. É necessário coragem e dinamismo.

As pessoas merecem ter uma solução! O SNS pode, deve e será certamente chave para a solução.

QOSHE - Lista de espera para consultas de especialidade: uma solução a curto prazo é possível e essencial - Nuno Marques
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Lista de espera para consultas de especialidade: uma solução a curto prazo é possível e essencial

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26.02.2024

O tempo excessivo de espera de uma consulta das várias especialidades é um dos problemas que afeta muitos dos portugueses.

Não fazer nada e deixar os portugueses sem acesso aos cuidados diferenciados de saúde não é solução, mas uma solução meramente tipo “penso rápido” também não resolve os problemas dos doentes. As mudanças estruturais do sistema sem a existência de uma capacidade adicional de resposta rápida, também não resolve o problema de quem espera por uma consulta atualmente.

Uma opção que tem sido colocada como possibilidade é a externalização do serviço do SNS para o setor privado lucrativo ou social da saúde, no entanto para as consultas essa solução possui vários problemas estruturais e pode colocar em causa o SNS e a sua capacidade de resposta a curto prazo.

Sem qualquer demagogia ou dogma entre setor público e social, partindo, contudo, do princípio de que o SNS é essencial na nossa sociedade, como foi bem visível numa situação de crise como na pandemia COVID, analisemos esta situação friamente e com o único objetivo de garantir os melhores cuidados aos doentes.

A vantagem de dar um “cheque consulta” aos utentes do SNS, que não possuam a resposta em........

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