O Partido Socialista chegou aos últimos dias de campanha refém de uma ideia que não parece ter pernas para andar.

Incapaz de jogar o campeonato da mudança, que 60% dos inquiridos na sondagem do ICS/ISCTE dizem defender, Pedro Nuno Santos leva às urnas o legado de António Costa. Não é apenas uma questão de credibilidade de quem se impôs politicamente prometendo fazer quase tudo de forma diferente para acabar a defender que é preciso manter o rumo, é também a impossibilidade de convencer os trabalhadores que perderam poder de compra que o país está melhor.

Há dez anos, ficou célebre a conclusão a que chegou Luís Montenegro, na véspera do congresso do PSD que preparava o partido para as legislativas do ano seguinte. Então líder parlamentar, Montenegro defendeu que "a vida das pessoas não [estava] melhor, mas a do País [estava] muito melhor". Três meses depois desta declaração, a saída limpa mostrava que ele tinha razão. O país tinha sido capaz de ultrapassar um dos maiores fracassos financeiros da sua história e, na segunda metade da década, foi possível aos portugueses ficarem melhor, recuperando rendimentos e poder de compra.

Por estes dias, vários dirigentes do PS enaltecem o feito do governo de António Costa e Fernando Medina, que deixa o país com um superavit orçamental, uma dívida abaixo dos 100% do PIB e a inflação controlada, ao mesmo tempo que regista um dos melhores crescimentos da zona euro. Feito tão espectacular levou as agências de rating a carimbar o nosso desempenho com a desejada letra A. Para quem teve de passar o que passou entre 2010 e 2015, com PEC’s e Troika, é de facto legitimo dizer, outra vez, que o país está muito melhor. Tanto mais que passou nos primeiros anos desta década por uma pandemia, duas guerras com efeitos na economia global e uma hiperinflação.

Para lá do problema, reconhecido por todos, das dificuldades por que passam muitos dos serviços públicos, mais a falta de habitação a preços justos, acontece que a estatística também nos diz que os trabalhadores portugueses perderam em média 5% do seu poder de compra.

Dito de forma prosaica, o país está mais rico mas a maioria dos portugueses está mais pobre do que estava no ano anterior. Volta, portanto, a dar-se o caso da vida das pessoas não estar melhor mas a do país estar muito melhor. Isso chega para ganhar eleições outra vez?

QOSHE - O momento Montenegro do PS - Paulo Baldaia
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

O momento Montenegro do PS

8 0
05.03.2024

O Partido Socialista chegou aos últimos dias de campanha refém de uma ideia que não parece ter pernas para andar.

Incapaz de jogar o campeonato da mudança, que 60% dos inquiridos na sondagem do ICS/ISCTE dizem defender, Pedro Nuno Santos leva às urnas o legado de António Costa. Não é apenas uma questão de credibilidade de quem se impôs politicamente prometendo fazer quase tudo de forma diferente para acabar a defender que é preciso manter o rumo, é também a impossibilidade de convencer os trabalhadores que perderam poder de compra que o país está melhor.

Há dez anos, ficou........

© Expresso


Get it on Google Play