Um jornalista foi agredido, intimidado e expulso de uma sala onde decorria um evento universitário com André Ventura, o líder do Chega. Retiraram-lhe o material de trabalho que ficou dentro da sala e só mais tarde o devolveram. Um segurança pessoal de André Ventura, mesmo depois do jornalista estar fora da sala, continuou com as intimidações.

Em primeiro lugar o que não pode nunca ficar por dizer: toda a solidariedade com o jornalista, com todos os jornalistas - que desempenhem com liberdade o seu trabalho. A liberdade de imprensa é um direito constitucionalmente consagrado e legalmente protegido, é um dos pilares da democracia. É nos direitos daquele profissional que se garantem os direitos de todos nós.

Depois, a análise ao significado deste ato condenável e o apuramento das responsabilidades: André Ventura já se retratou? O Chega já assumiu as suas culpas? Os criminosos já foram identificados? O caso está a ser investigado pela Justiça?

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Em debate parlamentar, na passada semana, André Ventura esbracejava com o telemóvel em debate sobre a destruição de um grupo de comunicação social. O simbolismo dos gestos foi acompanhado pela ideia de haver um medo conservador na sociedade da liberdade que a internet traz. Continuou o discurso com o argumento que é necessário limpar a comunicação social de um viés ideológico, colocando-se ao lado da administração que está a levar a cabo a destruição do grupo. Como corolário da intervenção, ficou a mensagem clara de desvalorização do jornalismo e da sua independência.

Quem argumenta com a liberdade, não pode apoiar ataques a jornalistas ou proibições. A liberdade depende de uma imprensa que não seja manietada, coagida ou intimidada. A informação séria é parte indissociável da liberdade, sem a qual seremos marionetas de narrativas manipuladoras ou de notícias falsas. Claro que quem fomenta notícias falsas como André Ventura faz, não defende nem o jornalismo, nem a liberdade.

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Quem argumenta com a ordem, não pode aceitar a desordem. André Ventura faz do “respeitinho” um pilar do seu discurso, mas numa sessão em que um trabalhador, jornalista, cidadão, é agredido pelos seus apoiantes remete-se ao silêncio? A liberdade de imprensa está constitucionalmente e legalmente protegida, quem atacou o jornalista cometeu um crime, é criminoso. Então André Ventura não denuncia este crime?

Quem abraça todas as polémicas lançadas por Ventura e o colocou no centro do debate político, tem agora a obrigação de expor a face que está por trás da máscara. Já estamos na fase da proibição - por meios físicos e violentos - do trabalho de jornalistas. É este o retrato da extrema-direita - quanto mais poder, maior a violência e maior a impunidade. Este é o momento em que Ventura deve ter os holofotes apontados, denunciada a violência, mostrada a desordem, revelada a verdadeira agenda. Deve ser forçado a dar a cara pelo ódio e pelas tempestades que semeia. Isso também será a demonstração de um jornalismo que não se amedronta, que não se esconde, que está à altura da importância que a democracia lhe dá.

QOSHE - Por um jornalismo livre - Pedro Filipe Soares
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Por um jornalismo livre

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17.01.2024

Um jornalista foi agredido, intimidado e expulso de uma sala onde decorria um evento universitário com André Ventura, o líder do Chega. Retiraram-lhe o material de trabalho que ficou dentro da sala e só mais tarde o devolveram. Um segurança pessoal de André Ventura, mesmo depois do jornalista estar fora da sala, continuou com as intimidações.

Em primeiro lugar o que não pode nunca ficar por dizer: toda a solidariedade com o jornalista, com todos os jornalistas - que desempenhem com liberdade o seu trabalho. A liberdade de imprensa é um direito constitucionalmente consagrado e legalmente protegido, é um dos pilares da democracia. É nos direitos daquele profissional que se garantem os direitos de todos nós.

Depois, a análise ao significado deste ato condenável e o apuramento das........

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