Um em cada dez trabalhadores é pobre. Trabalha, tem salário, contribui com o seu esforço para a riqueza do país, mas não sai da pobreza. No total, são quase 500 mil pessoas que trabalham e são pobres. Quase meio milhão de pessoas.

É sabido que os salários portugueses são baixos quando comparado com outros países europeus. E ficam ainda mais pequenos quando colocados em perspetiva com os preços de bens ou serviços elementares: no país dos salários baixos, o custo da habitação bate recordes e até ganha a vários países muito mais ricos do que nós. Mas, meio milhão de pessoas que tendo emprego não conseguem sair da pobreza é subir um patamar acima na desigualdade social e no reconhecimento do falhanço da economia.

Sabemos que estes trabalhadores são fundamentais para a economia, que sem eles o país parava, vemo-los todos os dias nas mais diversas funções. Contudo, é quando termina o turno, quando acaba o dia de trabalho, que a triste realidade se materializa, já mais longe dos nossos olhos. São fundamentais, mas pagos como se fossem descartáveis. São pessoas, mas deixadas para trás desumanizadas de direitos fundamentais.

O lastro desta pobreza é como uma mancha de óleo que se infiltra e alastra. Destes números da pobreza, há filhos e pais que se somam. Em particular nos mais jovens, um em cada cinco vive em situação de pobreza. É o ciclo que não se rompe, a prova do elevador avariado que a economia deixou sem conserto.

Se olharmos para os programas eleitorais partidários não vemos soluções para este problema vindas da direita. Entre a selvajaria do mercado ou promessas sem fundamento, a certeza é de que o salário de muitos continua a ser sinónimo de pobreza. O crescimento real dos salários ainda é visto como uma ameaça - o pensamento ainda não saiu da caixa da austeridad. Se hoje não estamos bem, a certeza é de ficarmos pior.

Mas, mesmo do lado do PS, a solução é paradigmática: o aumento no valor do Salário Mínimo de 2024 não chega para cobrir o aumento dos preços de bens essenciais, as promessas para anos futuros são certezas de passarem os quatro anos de mandato sem sequer levar o salário mínimo ao que hoje é praticado em Espanha. Desistência.

Desde 2015 ficou provado que melhores salários dão mais equilíbrio às contas públicas e puxam pela economia. É preciso dar passos que sejam maiores do que a inflação, que garantam a saída da pobreza. Só essas propostas são certeza de futuro.

QOSHE - Trabalhar para ser pobre? - Pedro Filipe Soares
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Trabalhar para ser pobre?

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21.02.2024

Um em cada dez trabalhadores é pobre. Trabalha, tem salário, contribui com o seu esforço para a riqueza do país, mas não sai da pobreza. No total, são quase 500 mil pessoas que trabalham e são pobres. Quase meio milhão de pessoas.

É sabido que os salários portugueses são baixos quando comparado com outros países europeus. E ficam ainda mais pequenos quando colocados em perspetiva com os preços de bens ou serviços elementares: no país dos salários baixos, o custo da habitação bate recordes e até ganha a vários países muito mais ricos do que nós. Mas, meio milhão de pessoas que tendo emprego não........

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