O nosso país obteve este ano o maior excedente orçamental da história da democracia, o que tem o seguinte significado surpreendente: Portugal está a dar lucro. Por esta é que ninguém esperava. Sobra-nos dinheiro. Em 2011 não conseguíamos pagar as dívidas a tempo; agora pagamos as dívidas mais depressa do que o esperado. Devemos ter sido promovidos no emprego e não reparámos. Alguma coisa aconteceu para termos passado de pelintras endividados para nababos que têm 3 mil e 200 milhões de euros a mais em cerca de dez anos. Curiosamente, no tempo em que não tínhamos dinheiro para pagar as dívidas, as pessoas queixavam-se de que não viviam bem; agora que as pagamos a bom ritmo as pessoas queixam-se de que não vivem bem. Quando Portugal está mal, os portugueses estão mal; quando Portugal está bem, os portugueses continuam mal. O segredo, creio, é Portugal estar mais ou menos. É a única situação que nos falta experimentar, e parece-me que será nessa altura que os portugueses viverão contentes. Com pena minha, não vejo nenhum partido empenhado na defesa de políticas públicas que conduzam Portugal a ficar mais ou menos. É incompreensível. A nossa índole sempre se deu bem com o mais ou menos. Estar mal deprime-nos, estar bem assusta-nos — por causa da falta de hábito. Estou disposto a começar uma vaga de fundo a favor deste desígnio nacional. E, em paralelo, uma outra vaga de fundo que tenha o objectivo de investigar a razão pela qual todas as vagas são de fundo. Não há outro tipo de vagas, e julgo que fazem falta.

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QOSHE - A fada dos excedentes - Ricardo Araújo Pereira
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A fada dos excedentes

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29.03.2024

O nosso país obteve este ano o maior excedente orçamental da história da democracia, o que tem o seguinte significado surpreendente: Portugal está a dar lucro. Por esta é que ninguém esperava. Sobra-nos dinheiro. Em 2011 não conseguíamos pagar as dívidas a tempo; agora pagamos as dívidas mais depressa do que o esperado. Devemos ter sido promovidos no emprego e não reparámos. Alguma coisa aconteceu........

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