Se fosse português em vez de alemão, talvez Karl Marx tivesse percebido que, ao contrário do que escreveu, a História não se repete, primeiro como tragédia e depois como farsa. O fenómeno é muito mais subtil e complexo, e só os portugueses o compreendem bem. O que sucede é que os acontecimentos históricos ocorrem primeiro nos outros países como tragédia, e depois em Portugal como farsa. No dia 6 de Janeiro de 2021, em Washington, uma multidão furiosa cercou o Capitólio, o edifício que é a sede do poder legislativo nos Estados Unidos, contendo o Congresso e a Câmara dos Representantes. No dia 19 de Fevereiro de 2024, em Lisboa, uma multidão furiosa cercou o Capitólio, o teatro do Parque Mayer que após o 25 de Abril se especializou na projecção de filmes pornográficos. Em Washington, a multidão era composta por desordeiros; em Portugal, era composta por pessoas cuja missão é manter a ordem. Em Washington, o ataque ao Capitólio resultou em 5 mortos e mais de 100 feridos; em Portugal, resultou no incómodo de, por vezes, se ouvir algum barulho vindo lá de fora, dentro do teatro.
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