Foi sempre assim. O professor propunha um problema e eu fixava-me no que não interessava. O João tinha nove maçãs. Deu cinco maçãs ao Filipe. Com quantas maçãs ficou o João? Enquanto os meus colegas subtraíam cinco de nove, eu dedicava-me à seguinte reflexão: como assim, o João tem nove maçãs? Em minha casa há maçãs, na fruteira, mas eu não diria que são minhas. Posso comê-las, se quiser, mas não me parece que a frase “o Ricardo tem maçãs” seja rigorosa, uma vez que sou uma criança de seis anos. Que regime de propriedade vigora em casa do João para que seja possível dizer que ele tem nove maçãs, e que pode dispor delas a ponto de oferecer cinco ao Filipe? Uma coisa é o Filipe ter ido a casa do João e ter perguntado ao João se podia comer uma das maçãs que estavam na fruteira. Outra coisa é a oferta de cinco maçãs, que não parece compatível com um normal lanche, mas se assemelha mais a recebimento indevido de vantagem.

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QOSHE - O caso do barracão de cablagem - Ricardo Araújo Pereira
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O caso do barracão de cablagem

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18.11.2023

Foi sempre assim. O professor propunha um problema e eu fixava-me no que não interessava. O João tinha nove maçãs. Deu cinco maçãs ao Filipe. Com quantas maçãs ficou o João? Enquanto os meus colegas subtraíam cinco de nove, eu dedicava-me à seguinte reflexão: como assim, o João tem nove maçãs? Em........

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