No atual contexto de Portugal, a sustentabilidade da segurança social está a ser meticulosamente questionada, evidenciando a necessidade de identificar alternativas viáveis que promovam um envelhecimento com dignidade e qualidade de vida para os cidadãos em fase de reforma. Com o envelhecimento progressivo da população e a redução da taxa de natalidade, enfrentamos desafios substanciais ao modelo atual de segurança social.

Estes problemas exigem a adoção de soluções adaptáveis à realidade, uma discussão que considero crucial e que pretendo abordar.

O esquema da segurança social em Portugal, assim como em diversos países avançados, é praticamente um esquema de "roda-viva", onde o dinheiro dos trabalhadores em atividade é diretamente distribuído para as pensões dos que já se retiraram.

Contudo, este mecanismo começa a mostrar falhas, intensificadas pelo crescente envelhecimento da população e pela redução da base de trabalhadores.

Surge então a interrogação - um tanto irônica - mas profundamente séria: até quando vamos depositar a nossa confiança num sistema que, aos olhos de muitos, parece estar a caminho da insustentabilidade?

A necessidade de soluções que tanto possam reforçar quanto, em determinadas circunstâncias, substituir o sistema público, ganha voz diariamente no debate público.

Por seu turno, os sistemas privados de pensões avançam como os “salvadores“, prometendo à geração mais nova a oportunidade de criar a própria reforma com uma autonomia sem precedentes.

No fundo, não é isso que caracteriza as novas gerações?

A profunda autonomia sobre o rumo da vida?

Estas soluções sugerem que cada pessoa consiga acumular poupanças e fazer investimentos a longo prazo, concebendo assim um futuro mais seguro e independente.

Esta proposta, confesso que com algum idealismo, propõe uma nova forma de segurança na reforma, quase como se nos

convidassem a “pilotar um avião privado” e finalmente este possa viajar com o destino ao futuro que todos desejamos.

Entre os benefícios mais notáveis dos sistemas privados de pensões, destacam-se pontos cruciais como a autonomia e o controlo, a flexibilidade, e a contribuição para a sustentabilidade do sistema público.

Ao proporcionar às pessoas a capacidade de terem um papel mais ativo na gestão das suas poupanças para a reforma, estes sistemas conferem uma liberdade sem precedentes no planeamento financeiro pessoal.

Não só permite que cada um de nós decida como e quanto poupar, mas também abre a porta para a diversificação das fontes de rendimento na reforma, adaptando-se de forma mais precisa às nossas necessidades e objetivos ao longo da vida.

Além disso, ao aliviar parte da carga que atualmente pesa sobre o sistema de segurança social público, contribui-se de forma significativa para a sua sustentabilidade futura.

Esta realidade sugere um equilíbrio mais saudável e uma visão de longo prazo, onde se torna a chave para um futuro financeiro mais seguro e estável.

A implementação bem-sucedida de sistemas privados de poupança para a reforma em Portugal exige um esforço concertado e uma abordagem multifacetada. Esta não é apenas uma questão de oferecer alternativas ao sistema de segurança social público, mas de integrar estas soluções num quadro coerente que promova a equidade, a sustentabilidade e a segurança financeira para todos.

Em primeiro lugar, acho essencial implementar um regime fiscal que incentive tanto empresas quanto pessoas a investirem em planos de pensões privados.

É claro que incentivos fiscais bem definidos e atraentes são fundamentais para aumentar a adesão a esses sistemas, tornando-os uma alternativa viável e desejável para a poupança a longo prazo.

Em segundo lugar, é imprescindível que a regulamentação e supervisão desses fundos privados sejam realizadas com rigor e transparência. Acredito que proteger os direitos e interesses dos

participantes é crucial. Para mim, construir uma base de confiança sólida é o que vai realmente incentivar uma maior participação nos planos de pensões privados.

Terceiro, uma campanha abrangente de educação financeira é essencial para dotar os cidadãos com o conhecimento necessário para tomar decisões informadas sobre a sua poupança para a reforma.

Compreender as opções disponíveis, os riscos associados e as estratégias para maximizar o retorno do investimento são componentes cruciais para empoderar as pessoas na gestão da sua poupança de reforma.

Por fim, reveste-se de crucial importância promover uma cultura de poupança e planeamento financeiro a longo prazo.

Mediante a conjugação de incentivos aliciantes, regulamentações favoráveis e uma formação financeira adequada, podemos começar a alterar, de forma gradual, a mentalidade relativa à poupança para a reforma. Este esforço visa transformá-la numa prioridade para todos, sem distinção de idade ou nível de rendimentos.

A noção de que a poupança e a preparação para a reforma são preocupações que pertencem exclusivamente à geração mais velha tornou-se obsoleta.

Atualmente, os jovens mostram-se mais conscientes e preocupados com o seu futuro financeiro do que nunca.

Ambicionam a segurança de que as suas contribuições para o sistema de segurança social se traduzam numa base sólida para uma reforma estável. Esta geração procura a confiança em que o seu investimento hoje em dia contribuirá para a sua estabilidade e bem-estar futuro.

Reforço que a introdução de sistemas privados de poupança para a reforma não tem como objetivo diminuir a importância ou o papel do Estado, mas sim facilitar e complementar a sua ação.

Ao diversificar as opções de poupança e proporcionar mais escolhas aos cidadãos, não só estamos a reforçar a estrutura de segurança social já existente, como também a enriquecer o tecido socioeconómico com uma maior responsabilidade e autonomia por parte de cada pessoa.

Este passo não representa um afastamento dos princípios fundamentais do Estado - de todo - mas antes uma evolução natural em direção a um sistema que preza a liberdade de escolha, a prudência e a sustentabilidade financeira a longo prazo.

A sustentabilidade da segurança social é um dos desafios mais prementes que Portugal enfrenta no século XXI.

No entanto, a transição para um modelo que valorize tanto os sistemas públicos como os privados exige um compromisso coletivo.

Governos, empresas e cidadãos devem trabalhar em conjunto para criar um ambiente que favoreça a poupança a longo prazo, através de incentivos fiscais, produtos financeiros acessíveis e, crucialmente, educação financeira abrangente.

Portugal enfrenta um momento crucial, com imensos desafios e oportunidades.

O sistema público de segurança social revela-se cansado, desatualizado e sobrecarregado, levando ao descontentamento tanto da geração mais nova quanto da mais velha, que dedicou uma vida inteira a contribuir para o bem-estar das gerações futuras.

Surge, assim a - urgência - de liderar pelo exemplo, de colaborar e modernizar, reconhecendo que a chave para o progresso pode não residir exclusivamente no Estado.

Temos, perante nós, a oportunidade de mostrar como é possível construir um sistema de segurança social sustentável e adaptativo, garantindo o bem-estar de todas as gerações. Ao abraçar esta transformação, Portugal pode posicionar-se como um exemplo a seguir, reforçando os valores de uma sociedade que zela, protege e prospera em unidade.

Este é o momento de atuar, assegurando um futuro mais seguro e próspero para todos, e (re)afirmando o nosso compromisso que para além do público e privado – existem pessoas.

A hora de agir é agora.

As decisões que tomarmos hoje irão definir o amanhã.

Vamos, então, comprometer-nos com um futuro onde cada cidadão possa encarar a reforma não como uma fonte de incerteza, mas como um merecido período de descanso e realização.

Para isso, é essencial que cada um de nós reconheça a importância de preparar ativamente a própria reforma, explorando todas as opções disponíveis e tomando decisões informadas para um futuro sustentável e seguro.

QOSHE - Os desafios ao modelo atual de segurança social - Ricardo Costa
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Os desafios ao modelo atual de segurança social

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07.03.2024

No atual contexto de Portugal, a sustentabilidade da segurança social está a ser meticulosamente questionada, evidenciando a necessidade de identificar alternativas viáveis que promovam um envelhecimento com dignidade e qualidade de vida para os cidadãos em fase de reforma. Com o envelhecimento progressivo da população e a redução da taxa de natalidade, enfrentamos desafios substanciais ao modelo atual de segurança social.

Estes problemas exigem a adoção de soluções adaptáveis à realidade, uma discussão que considero crucial e que pretendo abordar.

O esquema da segurança social em Portugal, assim como em diversos países avançados, é praticamente um esquema de "roda-viva", onde o dinheiro dos trabalhadores em atividade é diretamente distribuído para as pensões dos que já se retiraram.

Contudo, este mecanismo começa a mostrar falhas, intensificadas pelo crescente envelhecimento da população e pela redução da base de trabalhadores.

Surge então a interrogação - um tanto irônica - mas profundamente séria: até quando vamos depositar a nossa confiança num sistema que, aos olhos de muitos, parece estar a caminho da insustentabilidade?

A necessidade de soluções que tanto possam reforçar quanto, em determinadas circunstâncias, substituir o sistema público, ganha voz diariamente no debate público.

Por seu turno, os sistemas privados de pensões avançam como os “salvadores“, prometendo à geração mais nova a oportunidade de criar a própria reforma com uma autonomia sem precedentes.

No fundo, não é isso que caracteriza as novas gerações?

A profunda autonomia sobre o rumo da vida?

Estas soluções sugerem que cada pessoa consiga acumular poupanças e fazer investimentos a longo prazo, concebendo assim um futuro mais seguro e independente.

Esta proposta, confesso que com algum idealismo, propõe uma nova forma de segurança na reforma, quase como se nos

convidassem a “pilotar um avião privado” e finalmente este possa viajar com o destino ao futuro que todos........

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