No passado dia 10 de Março, Portugal viveu um momento histórico nas suas eleições legislativas, um momento que deixou muitos boquiabertos, sobretudo aqueles menos atentos e os que subestimam a astúcia do povo português. A surpresa maior recaiu sobre a figura de Augusto Santos Silva, que, após uma legislatura combatendo vigorosamente o partido Chega, acusando-o de fascismo e anti-democracia, viu-se fora da Assembleia da República – um desfecho inédito para um presidente desta instituição.

Este resultado não é um mero acaso, mas sim o reflexo de um povo que observa, analisa e decide com perspicácia. Os portugueses provaram ser mais atentos e inteligentes do que muitos políticos da atualidade presumem. Expressaram um rotundo "basta" à corrupção, à insuficiência de soluções habitacionais, ao caos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), ao desrespeito para com os profissionais da administração pública e à crescente emigração dos jovens.

Este é um claro sinal para os partidos tradicionalmente no poder – os que formam o chamado arco da governação – de que é imperativo mudar. As políticas precisam de ser revistas, com um foco maior no bem-estar do país e não nos interesses partidários ou individuais.

O país demonstrou uma inclinação à direita, sinalizando um desejo por mais crescimento, autonomia e uma menor intervenção do Estado na economia. Este movimento não deve ser interpretado como um endosso ao extremismo ou à intolerância, mas sim como um pedido de mudança, uma procura por soluções pragmáticas que enderecem os problemas reais que afetam o dia a dia dos portugueses.

A emergência do Chega como força política é emblemática deste clamor por renovação. Independentemente das críticas e controvérsias que o rodeiam, a sua ascensão é um sintoma da insatisfação popular com o status quo. É uma lembrança de que os partidos estabelecidos não podem dar-se ao luxo de ignorar as preocupações dos eleitores ou de tratar a política como um jogo de interesses pessoais.

Portugal está num momento de viragem. Os resultados destas eleições não são apenas números que se somam ou subtraem; são vozes, são esperanças, são exigências de um povo que quer ser ouvido e respeitado. Os portugueses mostraram que não são meros espectadores da sua história política, são os autores.

Chegou o momento dos partidos refletirem profundamente sobre as suas práticas, políticas e, mais importante, sobre o seu compromisso com o povo. O diálogo entre os cidadãos e os seus representantes precisa de ser reforçado, as bases da democracia fortalecidas e a confiança restabelecida.

Os portugueses falaram alto e claro: querem transparência, integridade e soluções que elevem a qualidade de vida de todos, não apenas de uma elite. Ignorar esta mensagem seria não apenas um erro, mas uma falha grave com o futuro do país.

Numa era de incertezas globais, de desafios sem precedentes, Portugal tem agora a oportunidade de trilhar um caminho baseado na inovação, na justiça social e no desenvolvimento sustentável. Este é o momento de os políticos mostrarem que são dignos do cargo que ocupam, que podem elevar-se acima das querelas partidárias e colocar Portugal e os portugueses em primeiro lugar.

Os resultados das eleições legislativas de 10 de março de 2024 são um manifesto por mudança, um apelo ao rejuvenescimento da política portuguesa. Os portugueses não são estúpidos; são cidadãos atentos e exigentes que clamam por um futuro melhor. Este é o momento para todos os partidos políticos, quer da direita quer da esquerda, interpretarem corretamente os sinais dados pelas urnas, repensarem estratégias e redefinirem prioridades, colocando sempre Portugal e os portugueses em primeiro plano.

A lição a retirar destas eleições é clara: subestimar a inteligência e o discernimento do povo português é um erro. Os cidadãos procuram mais do que promessas vazias; procuram acções concretas, políticas eficazes que respondam às suas necessidades e aspirações. O apelo por transparência, ética e responsabilidade nunca foi tão evidente.

Perante este cenário, urge uma reflexão profunda sobre o estado da nossa democracia e sobre o papel que cada um de nós desempenha nela. Os desafios são muitos, mas a capacidade de superá-los reside na vontade coletiva de construir um país mais justo, próspero e inclusivo.

Portugal virou à direita, mas este virar não é um fim em si mesmo; é, antes, um meio para alcançar uma sociedade mais equilibrada, onde o crescimento económico ande de mãos dadas com a coesão social. É um sinal de que é tempo de abandonar velhas disputas e unir esforços em prol do bem comum.

Concluo, portanto, com uma mensagem de esperança e de desafio. A esperança reside na capacidade de mudança demonstrada pelo povo português; o desafio, na responsabilidade de todos os actores políticos e sociais em honrar essa mudança. Que não se diga que Portugal é um país de conformados, mas sim de corajosos, capazes de decidir o seu destino com sabedoria e visão de futuro.

"Os Portugueses Não São Estúpidos" é mais do que um título; é uma declaração de princípios. Uma recordação de que, em democracia, o poder emana do povo e para o povo deve ser exercido. Que as surpresas destas eleições sejam o catalisador necessário para revitalizar a nossa democracia, assegurando que Portugal caminha firme, ao encontro das aspirações de todos os seus cidadãos.

QOSHE - Os Portugueses não são estúpidos - Ricardo Costa
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Os Portugueses não são estúpidos

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21.03.2024

No passado dia 10 de Março, Portugal viveu um momento histórico nas suas eleições legislativas, um momento que deixou muitos boquiabertos, sobretudo aqueles menos atentos e os que subestimam a astúcia do povo português. A surpresa maior recaiu sobre a figura de Augusto Santos Silva, que, após uma legislatura combatendo vigorosamente o partido Chega, acusando-o de fascismo e anti-democracia, viu-se fora da Assembleia da República – um desfecho inédito para um presidente desta instituição.

Este resultado não é um mero acaso, mas sim o reflexo de um povo que observa, analisa e decide com perspicácia. Os portugueses provaram ser mais atentos e inteligentes do que muitos políticos da atualidade presumem. Expressaram um rotundo "basta" à corrupção, à insuficiência de soluções habitacionais, ao caos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), ao desrespeito para com os profissionais da administração pública e à crescente emigração dos jovens.

Este é um claro sinal para os partidos tradicionalmente no poder – os que formam o chamado arco da governação – de que é imperativo mudar. As políticas precisam de ser revistas, com um foco maior no bem-estar do país e não nos interesses partidários ou individuais.

O país demonstrou uma inclinação à direita, sinalizando um desejo por mais crescimento, autonomia e uma menor intervenção do........

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