Estamos a aproximar-nos a passos largos do Natal e, com a chegada dos primeiros dias de dezembro o recurso à expressão mais ouvida: “para ti também”.

De tal é a vontade de retribuir que, muitos já não ouvem o que dizemos e toca lá responder com o tal, para ti também.

Pergunto, está tudo bem e lá vem a resposta, para ti também; levanto o braço e, do outro lado da rua, lá vem o “Para ti também”; olha o sporting perdeu e lá vem como, “pra ti também”.

Confesso que é este suposto espírito natalício que me incomoda, ir encontrando aqueles que nem sabem o que vamos dizer, mas que para serem hipocritamente agradáveis, lá respondem, para ti também. Aqueles que ao longo do ano, não nos ligam nenhuma ou se ligam é de forma negativa, mas chegados à altura de Natal, com aquele sorriso fingido, lá nos dizem: “olha, Feliz Natal” ou “para ti também e família”.

Lembro-me que, o Natal tinha aquela magia da amizade, do andar pelo Funchal, já todo enfeitado e irmos encontrando os amigos, mas também aqueles que nem conhecíamos, mas que genuinamente nos diziam, Feliz Natal, e a quem alegremente respondíamos, Feliz Natal e não apenas com o para ti também.

No Monte, e para quem foi aluno do Colégio do Infante, o Natal começava a 8 de dezembro, com a festa do dia de Nossa Senhora da Conceição.

Seguia-se a ida, a pé, com os amigos, do Monte até à Ribeira das Cales, para escolher um pinheiro, o mais bonito, o que tinha os ramos mais direitos e aquele cheiro a “abeto”.

Ao chegar a casa, lá vinham os comentários, da mãe a dizer, lindo pinheirinho e, da irmã, para aborrecer, o quê, o dia todo para trazer isso.

A próxima tarefa era procurar uma lata grande para colocar o pinheiro, onde também colocávamos pedras para que ele se segurasse (por culpa do Rui e do Fernando, o nosso pinheiro, chegou a cair, levando com ele luzes e bolas e especialmente um valente susto pelo estrondo causado). Seguia-se o, “roda a lata para a esquerda, os ramos deste lado são mais bonitos, agora só mais um jeitinho” e, antes de começar a enfeitar, lá ouvia “afasta-te que não tens jeito para isto”, que lá dava aquela possibilidade depois de dar umas dicas, “acho que ficava melhor colocar as luzes na horizontal e não gosto das bolas douradas e da estrela na ponta”. Concluído o efeito, lá aguardávamos pela noite, para melhor ver o efeito das gambiarras e assim, com o pisca pisca e o cheiro a abeto, o Natal tinha chegado.

Restava aguardar pelo dia 23, para a ida ao almirante reis, aproveitar os carrinhos elétricos, jogar aos matraquilhos e, conviver com os amigos naquele dia que, se foi impondo no calendário natalício madeirense como um dia de referência.

Depois, eram as visitas à casa dos familiares, com o almoço de Natal na casa de um tio, o jantar na casa de outro, e a primeira oitava, com o cozido à portuguesa, cozinhado no fogão a lenha que, meu pai tanto gostava de fazer.

E, mantendo a saga, daquele meu cliente do “se fosse comigo”, encontro-o e digo, então que tal? Resposta pronta: para si também. Ó homem, estou a perguntar se está bem. Diz ele: ah, desculpe, pensei que estava a desejar-me bom Natal, de qualquer dos modos também desejo igual para si.

Digo-lhe: então vai reunir a família este ano? Ele: também para si. Farto disto, pensei, já te apanho: olhe, oxalá que venham muitos presentes. Enquanto espero pela resposta típica, lá vem ele a sorrir e diz: também para mim.

Ontem, os Advogados receberam uma boa notícia, quase, um presente de Natal, o senhor Presidente da República vetou as alterações ao Estatuto da Ordem dos Advogados. Para mim, representou na verdade como se tivesse ouvido um grito vindo de Belém que ecoava, “Feliz Natal”, pelo que apeteceu-me responder: para si também senhor Presidente.

Como já não escrevo antes do Natal, desejo a todos um Santo e Feliz Natal, com muita alegria e em especial com muita saúde e um próspero ano de 2024 e, já agora, para si que, teve a gentileza de ler este texto, digo-lhe: Bom Natal, também para si.

QOSHE - Para ti também - Artur Jorge Baptista
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Para ti também

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13.12.2023

Estamos a aproximar-nos a passos largos do Natal e, com a chegada dos primeiros dias de dezembro o recurso à expressão mais ouvida: “para ti também”.

De tal é a vontade de retribuir que, muitos já não ouvem o que dizemos e toca lá responder com o tal, para ti também.

Pergunto, está tudo bem e lá vem a resposta, para ti também; levanto o braço e, do outro lado da rua, lá vem o “Para ti também”; olha o sporting perdeu e lá vem como, “pra ti também”.

Confesso que é este suposto espírito natalício que me incomoda, ir encontrando aqueles que nem sabem o que vamos dizer, mas que para serem hipocritamente agradáveis, lá respondem, para ti também. Aqueles que ao longo do ano, não nos ligam nenhuma ou se ligam é de forma negativa, mas chegados à altura de Natal, com aquele sorriso fingido, lá nos dizem: “olha, Feliz Natal” ou “para ti também e família”.

Lembro-me que, o Natal tinha aquela magia da amizade, do andar pelo Funchal, já todo enfeitado e irmos encontrando........

© JM Madeira


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