Passados 50 anos do dia em que nas ruas se lutou e se gritou por liberdade, muito mudou e os efeitos da luta derramaram-se, naturalmente, no quotidiano de cada um de nós. Não obstante, não vale a pena que nos tentem convencer de que em todo o lado e em todas as situações se respira e se respeita a liberdade.

Na Madeira e no Porto Santo, nos mais variados contextos, a ação do cidadão e do coletivo é alvo de lápis azul, de censura dura, nua e crua. Veja-se, a título de exemplo, os factos ocorridos, há menos de uma semana, no Festival Infantil da Canção: as crianças e os pais quiseram expressar o que lhes ia na alma sobre a vontade de fecharem a porta ao trabalho do Coro Infantil e da sua digníssima maestrina, mas as suas vozes não se fizeram ouvir. Este episódio espelha o que muitas vezes sucede na Região Autónoma da Madeira: tenta-se a todo o custo calar quem se manifesta contra o modus operandi do Governo Regional. Obriga-se a Administração Pública Regional a cantar em uníssono e quem se atrever a desafinar é convidado (nem sempre de forma gentil e cordial) a abandonar o coro.

Meio século não foi tempo suficiente para se poder ser funcionário público sem estar toda a vida alguém a lembrar-nos que temos que agradecer essa “benesse” concedida por alguém a quem se deve obediência e respeito. E onde fica o respeito pelo cidadão e pelo seu trabalho? Meio século não foi tempo suficiente para se deixar de castigar quem se “porta mal” e dar o rebuçado a quem obedece cegamente?

Meio século não foi tempo suficiente para se deixar de privar a população do acesso a serviços básicos e de apenas se efetivar a devolução quando dá jeito ao Governo Regional. Veja-se, a título de mero exemplo, o que sucede com os Serviços de Urgências de Porto Moniz e de Santana: com a desculpa da escassez de meios humanos, a população destes concelhos passou a ter dias e horas certas para adoecer e para reverter essa situação, quando a mesma foi alvo de votação na Assembleia Legislativa Regional, teria bastado, tão somente, ter-se levantado o deputado Valter Correia que só dessa forma demonstraria ser defensor dos interesses da população do Porto Moniz.

Faltou o voto favorável de um deputado que, num claro desrespeito por quem o elegeu, ficou sentado quando deveria ter sido o primeiro a levantar-se. Levantará agora certamente a voz para anunciar em todas as ações de campanha o “rebuçado” que o Governo Regional nos vai dar a partir de 1 de maio: a reabertura dos Serviços de Urgências de Porto Moniz e Santana 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Não tenho qualquer dúvida que esta medida se deve ao facto de eu integrar a lista do Partido Socialista à Região Autónoma da Madeira e ao facto do PPD querer, a todo o custo, perpetuar-se no poder, desta feita com a ajuda da população do Porto Moniz que há poucos dias era pouca e para pouco contava, mas que na hora do voto, como a margem já é muito mais curta do que em tempos, pode vir a ser importante.

A população, já a 26 de maio, pode mostrar quem manda de facto nos destinos da Região e contribuir para deixemos de assistir e de sentir na pele estas situações de violação de direitos fundamentais e de atentado à inteligência dos eleitores.

Pode, efetivamente, “acontecer Abril” já a 26 de maio, bastando que esse seja o desejo da maioria dos madeirenses e dos porto-santenses.

QOSHE - 50 anos depois, urge ainda “fazer-se” Abril! - Emanuel Câmara
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50 anos depois, urge ainda “fazer-se” Abril!

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24.04.2024

Passados 50 anos do dia em que nas ruas se lutou e se gritou por liberdade, muito mudou e os efeitos da luta derramaram-se, naturalmente, no quotidiano de cada um de nós. Não obstante, não vale a pena que nos tentem convencer de que em todo o lado e em todas as situações se respira e se respeita a liberdade.

Na Madeira e no Porto Santo, nos mais variados contextos, a ação do cidadão e do coletivo é alvo de lápis azul, de censura dura, nua e crua. Veja-se, a título de exemplo, os factos ocorridos, há menos de uma semana, no Festival Infantil da Canção: as crianças e os pais quiseram expressar o que lhes ia na alma sobre a vontade de fecharem a porta ao trabalho do Coro Infantil e da sua digníssima maestrina, mas as suas vozes não se fizeram ouvir. Este episódio espelha o que muitas vezes sucede na Região Autónoma da Madeira: tenta-se........

© JM Madeira


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