Com a inflação ainda alta e o número de desempregados a aumentar, Portugal enfrenta vários problemas ao nível das políticas públicas do trabalho. Com eleições legislativas marcadas para 10 de março, os partidos políticos disparam promessas, mas não haverá dúvida de que terão melhores resultados aqueles que conseguirem fazer passar a mensagem, populista ou não, de aumentos de salários, menos tempo a trabalhar e melhor conciliação entre a vida profissional e familiar. Um unicórnio difícil de atingir tendo em conta que há uma mudança de mentalidade na sociedade: o trabalho parece ter deixado de ser o centro da vida das pessoas. Claro está que será sempre uma prioridade, quer porque gostam ou precisam, mas as suas preocupações atuais são também a saúde, o lazer, o tempo para si ou para a família.

Apesar de estarmos a viver alterações estruturais na forma como olhamos para o emprego, tanto ecológica como digital, a maioria dos portugueses ainda é tradicional: valoriza a estabilidade e o salário. Com o reforço do teletrabalho, surgiram, nestes últimos anos, alguns elementos que devem ser tidos em conta pelos partidos, como a necessidade crescente entre os trabalhadores de maior flexibilidade e autonomia para realizar a sua atividade. O que indica que a submissão à hierarquia, ao horário e à cadeia de comando, típica do modelo industrial iniciado no século passado e também do emprego nas administrações públicas, tem menos adeptos entre os que abraçaram as chamadas novas profissões.

Apesar de tudo, superadas as dificuldades geradas pela pandemia, Portugal continua a ser um país onde predomina o trabalho presencial. Mas está à vista que a utilização da inteligência artificial poderá provocar perdas de emprego, embora, no médio prazo, se admita que produzirá efeitos positivos. A verdade é que os partidos não espelham essa realidade nos seus compromissos. As suas relações com o trabalho e a forma como o veem, seja à esquerda ou direita, cristalizaram no pós-25 de Abril.

QOSHE - Como trabalhamos? - António José Gouveia
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Como trabalhamos?

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24.01.2024

Com a inflação ainda alta e o número de desempregados a aumentar, Portugal enfrenta vários problemas ao nível das políticas públicas do trabalho. Com eleições legislativas marcadas para 10 de março, os partidos políticos disparam promessas, mas não haverá dúvida de que terão melhores resultados aqueles que conseguirem fazer passar a mensagem, populista ou não, de aumentos de salários, menos tempo a trabalhar e melhor conciliação entre a vida profissional e familiar. Um unicórnio difícil de........

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