O primeiro aniversário do ChatGPT chegou com o rocambolesco despedimento que não chegou a ser de Sam Altman, CEO da OpenAI. Um ano em que as pessoas passaram a levar muito a sério a inteligência artificial e os seus perigos e desafios para toda a sociedade. Incrível como os mais adolescentes, e não só, utilizam esta ferramenta para os trabalhos escolares, como ela entra na vida de todos sem qualquer suspiro ou preocupação, substituindo os seres humanos em tarefas que levantam dúvidas sobre a qualidade e, principalmente, veracidade produzida.

O aplicativo de maior sucesso de todos os tempos, com 13 milhões de utilizadores únicos no final de dezembro do ano passado, passou para mais de cem milhões de utilizadores e está na vanguarda de uma corrida pela inteligência generativa da qual todo o Mundo participa. Daí que as grandes tecnológicas também tenham decidido avançar pelo mesmo caminho. O Google tem o Bard, a Microsoft o Bing e a Amazon comprou a Anthropic, um empresa que saiu da OpenAI.

O monstro que se alimenta de si próprio tem vários defeitos e que, atualmente, não podem ser solucionados. O ChatGPT foi treinado para absorver indiscriminadamente conteúdos alojados na Internet. Perante isto e a perguntas que lhe fazemos, o monstro regurgita o trabalho dos artistas, músicos, autores e profissionais que digeriu pela via da Internet. Qual é a primeira consequência? Perturba o mercado das indústrias criativas, incluindo o jornalismo, e está a provocar uma enxurrada de ações judiciais por violação de direitos de autor. Outra das falhas é a sua tendência para inventar livros que não existem e eventos que nunca aconteceram. Isto porque na Internet há de tudo: o que é verdade e o que é mentira. No fundo, são defeitos de uma máquina cuja magia é prever uma palavra após a outra, com base nos textos, fotos e vídeos processados, sem qualquer inteligência cognitiva, mas apenas estatística. A máquina (ainda) não compreende a diferença entre a ficção e a realidade.

Isso tem acontecido em várias situações, como o uso malicioso da produção automática de imagens, vozes e acontecimentos falsos concebidos para provocar uma resposta emocional dos cidadãos. Em casos de guerra, como na Ucrânia ou Gaza, a inteligência artificial procura também (e dá como verdadeira), a proliferação de informações falsas veiculadas por ambas as partes. Está na altura de os seres humanos responderem.

QOSHE - O monstro que nos seduz - António José Gouveia
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O monstro que nos seduz

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05.12.2023

O primeiro aniversário do ChatGPT chegou com o rocambolesco despedimento que não chegou a ser de Sam Altman, CEO da OpenAI. Um ano em que as pessoas passaram a levar muito a sério a inteligência artificial e os seus perigos e desafios para toda a sociedade. Incrível como os mais adolescentes, e não só, utilizam esta ferramenta para os trabalhos escolares, como ela entra na vida de todos sem qualquer suspiro ou preocupação, substituindo os seres humanos em tarefas que levantam dúvidas sobre a qualidade e, principalmente, veracidade produzida.

O aplicativo de maior sucesso de todos os tempos, com 13........

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