Também o setor agrícola europeu está a ser tomado por ultranacionalistas e protecionistas, pondo em causa o mercado interno comum. Proibir a exportação de produtos agrícolas entre os países da União Europeia é meio caminho andado para o fim do projeto europeu e é isso que os agricultores mais extremistas pretendem. Travar a importação de frangos da Polónia para França ou a venda de frutos de Espanha para França coloca tudo em risco.

O setor agrícola europeu, no qual se inclui Portugal, foi apanhado numa tempestade perfeita e só Bruxelas pode resolver a questão.

Não é com ataques indiscriminados à Política Agrícola Comum, como propuseram os elementos mais exaltados dos recentes protestos e apoiados de forma irresponsável por governos, como os de França, Bélgica ou Hungria, que vamos lá. É que as reivindicações extremadas nada têm a ver com as reivindicações dos agricultores comuns e que, a ser implementadas, só iriam agravar a difícil situação do setor. Os agricultores portugueses, em particular, devem estar cientes de que fechar as fronteiras a produtos vindos de outros países europeus é meio caminho andado para que o feitiço se vire contra o feiticeiro.

Os protestos merecem, portanto, uma resposta adequada, tanto da Comissão Europeia como das autoridades nacionais, mas sem pôr em causa os fundamentos da solidariedade e da abertura dos mercados europeus. Há que ter em conta que, se a Europa quer estar na frente da defesa do ambiente, isso tem repercussões diretas na agricultura. É aí que os agricultores devem ser apoiados.

Mas em nenhum caso se deverá aceitar que a atual crise ponha em causa os objetivos prioritários como a necessidade de uma agricultura compatível com a luta contra as alterações climáticas.

Há outra questão: as ajudas de Bruxelas são maioritariamente absorvidas por verdadeiras multinacionais da agricultura. É necessário repensar a PAC para garantir um efeito redistributivo mais justo. Dos seus 378 mil milhões de euros, até agora, 20% dos proprietários respondem até 80% dos subsídios. E a reforma recentemente lançada exige apenas que pelo menos 10% da ajuda seja atribuída às pequenas e médias explorações agrícolas, reservando uns minúsculos 3% para os jovens agricultores.

QOSHE - Ultranacionalistas na agricultura - António José Gouveia
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Ultranacionalistas na agricultura

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05.02.2024

Também o setor agrícola europeu está a ser tomado por ultranacionalistas e protecionistas, pondo em causa o mercado interno comum. Proibir a exportação de produtos agrícolas entre os países da União Europeia é meio caminho andado para o fim do projeto europeu e é isso que os agricultores mais extremistas pretendem. Travar a importação de frangos da Polónia para França ou a venda de frutos de Espanha para França coloca tudo em risco.

O setor agrícola europeu, no qual se inclui Portugal, foi apanhado numa tempestade perfeita e só Bruxelas pode resolver........

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