A muito poucos dias de celebrarmos os 50 anos do 25 de Abril - uma data memorável para a História de Portugal - faz sentido refletir sobre essa nova conjuntura política que trouxe tantas oportunidades para o desenvolvimento económico, civilizacional e social deste país. Convém, contudo, recordar como pouco tempo depois, não muito, e de repente, tudo foi posto em causa, e como tudo poderia ter regredido, no dia 25 de novembro de 1975, quando grupos radicais tentaram assumir o controlo do processo revolucionário, e foram contidos pelas forças democráticas.

Este acontecimento é, sem dúvida, outro marco importante na História portuguesa - por tudo o que à época representavam os valores de quem tentou tomar o poder pela força, e que se traduziu, afinal, numa bem-sucedida forma de estabilização política, após um período de grande desassossego. Foi após o 25 de Novembro que se consolidou o caminho para a democracia em Portugal, e pese embora não tenha tido impacto direto sobre o sistema de saúde, contribuiu para um ambiente seguro, que permitiu ao poder político concentrar-se no desenvolvimento e na melhoria do SNS. Esta estabilidade política possibilitou ainda uma abordagem mais estruturada, que favoreceu o crescimento de programas de prevenção, educação em saúde e um fortalecimento geral do SNS.

No contexto da saúde, a Revolução dos Cravos foi um catalisador para a criação do SNS, estabelecido oficialmente em 1979. Não fora ter acontecido o 25 de Abril e ainda hoje, provavelmente, não haveria acesso universal à saúde, e ainda hoje teríamos um sistema de saúde marcado por profundas desigualdades e limitações. Naquela época, o acesso aos serviços de saúde era restrito e limitado à classe social e ao poder aquisitivo, sendo que a maioria da população não acedia ao serviço de saúde público, e dependia de instituições de caridade ou de assistência prestada por organizações religiosas e beneficentes.

O SNS é, sem dúvida, uma conquista emblemática que reflete as mudanças políticas e sociais que Portugal vivenciou a partir do 25 de Abril de 1974, e que marcou o fim de uma longa ditadura, abrindo caminho para a democracia, e proporcionando a base para uma reestruturação significativa do país.
É nesse contexto que o sistema de saúde português representa um testemunho do impacto das mudanças políticas trazidas pelo 25 de Abril e pelo 25 de Novembro. Enquanto o 25 de Abril criou as condições para um sistema de saúde universal e inclusivo, o 25 de Novembro garantiu a estabilidade necessária para o seu crescimento e aprimoramento.

Hoje, 50 anos volvidos e passadas duas datas cujo número soma este meio século de democracia, o SNS continua a ser um símbolo de busca por uma sociedade mais justa e equitativa. Por isso, enquanto cidadão tenho de manifestar a minha gratidão ao general Ramalho Eanes, ao PS, ao PSD e ao CDS.

QOSHE - Os 25’s que fazem 50 - Eurico Castro Alves
menu_open
Columnists Actual . Favourites . Archive
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close
Aa Aa Aa
- A +

Os 25’s que fazem 50

10 0
23.04.2024

A muito poucos dias de celebrarmos os 50 anos do 25 de Abril - uma data memorável para a História de Portugal - faz sentido refletir sobre essa nova conjuntura política que trouxe tantas oportunidades para o desenvolvimento económico, civilizacional e social deste país. Convém, contudo, recordar como pouco tempo depois, não muito, e de repente, tudo foi posto em causa, e como tudo poderia ter regredido, no dia 25 de novembro de 1975, quando grupos radicais tentaram assumir o controlo do processo revolucionário, e foram contidos pelas forças democráticas.

Este acontecimento é, sem dúvida, outro marco importante na História portuguesa - por tudo o que à época representavam os valores de quem tentou tomar o........

© Jornal de Notícias


Get it on Google Play