O jornalismo atravessa hoje uma gravíssima crise. Não é a primeira, mas é certamente uma das maiores. Em causa está, sobretudo, a continuidade de jornais históricos e de uma rádio de enorme centralidade no noticiário da atualidade. No caso do JN, falamos de um projeto fundamental para o campo dos média e vital para os territórios, sobretudo para a Região Norte. Perante este estado de urgência, impõe-se uma frente de salvação. Já e em força!

Imaginemos que subitamente desaparecem de circulação DN e JN. Ao nível de jornais diários generalistas impressos, Portugal passaria a contar apenas com o “Público” e o “Correio da Manhã”. Dois títulos assegurariam o necessário pluralismo ao nível do noticiário e da opinião? A resposta é óbvia.

Para além de um substancial aperto na agenda noticiosa (nos temas e nas fontes), a crise destes jornais arrasta consigo a delapidação de duas marcas históricas. O “Diário de Notícias” surgiu em 1864, inaugurando a fase noticiosa da imprensa ao procurar desenvolver um jornalismo independente do poder político que se sustentaria a partir dali com receitas próprias. Para trás, ficava uma fase romântica e de opinião em que as redações viviam vergadas às vontades dos partidos que as financiavam. O JN aparece poucos anos depois, em 1888, sempre com uma atenção permanente aos territórios. E com isso edificou um lugar único no sistema mediático.

Hoje, o país que constrói notícias faz-se, sobretudo, a partir de Lisboa. E isso tem consequências pesadas na diversidade do espaço público mediático que cada vez mais se aperta no que diz respeito a quem tem acesso à palavra. Se procurarmos projetos editoriais de âmbito nacional com polos centrais fora de Lisboa, encontramos apenas dois: a RTP, que emite uma programação regular a partir do Centro de Produção do Norte, situado em Vila Nova de Gaia; e o “Jornal de Notícias”, que tem a sua principal Redação no Porto. Essa descentralização é fundamental para a revitalização equilibrada no espaço público. Sem esses projetos, grande parte da tematização noticiosa nunca ganharia visibilidade de âmbito nacional e um número substancial de fontes de informação nunca teria acesso à palavra.

Seja por reforço dentro do grupo Global Media, seja por compra por parte de outros empresários, seja por apoio financeiro público, o “Jornal de Notícias” não pode desaparecer. Porque é viável do ponto de vista financeiro, porque vivifica os territórios, porque diversifica o espaço público, porque cria outras centralidades, porque se revela insubstituível para uma democracia que se quer participada, aberta e livre. Encarar o jornalismo enquanto bem público é algo inquestionável hoje. Só falta dotá-lo de condições para a sustentabilidade.

QOSHE - A importância do JN - Felisbela Lopes
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A importância do JN

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12.01.2024

O jornalismo atravessa hoje uma gravíssima crise. Não é a primeira, mas é certamente uma das maiores. Em causa está, sobretudo, a continuidade de jornais históricos e de uma rádio de enorme centralidade no noticiário da atualidade. No caso do JN, falamos de um projeto fundamental para o campo dos média e vital para os territórios, sobretudo para a Região Norte. Perante este estado de urgência, impõe-se uma frente de salvação. Já e em força!

Imaginemos que subitamente desaparecem de circulação DN e JN. Ao nível de jornais diários generalistas impressos, Portugal passaria a contar apenas com o “Público” e o “Correio da Manhã”. Dois títulos assegurariam o necessário........

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