Procurar o 25 de Abril nos jornais que se publicaram em Portugal no dia da revolução é regressar a um tempo em que a imprensa tinha uma enorme centralidade. São imensos os títulos em banca naquela altura. Em cada artigo, sente-se um enorme desejo de liberdade.

Ainda que não fosse inteiramente factual, o vespertino “República”, o mais influente diário de oposição à ditadura não clandestino, anuncia logo na primeira edição o seguinte: “As Forças Armadas tomaram o poder”. As sucessivas edições, com a mesma manchete, consolidam a informação. Em rodapé, a Redação veicula outra informação: “este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura”. Numa espécie de editorial publicado em capa com o título “Pelo povo e pelas suas liberdades”, escreve-se: “O ato de força só será útil e terá a sua justificação se contribuir para dar a todos os portugueses efetiva participação no Governo da Nação”. No interior, republica-se um artigo de Mário Soares, saído no jornal francês “L’Unité”, intitulado “O fascismo português ferido de morte”. “A Capital” é menos audaz na escolha das palavras, mas mais sensacionalista no grafismo. Sob fundo preto, anuncia em capa isto: golpe militar. O resto da capa é preenchido com o título “Movimento das Forças Armadas desencadeia ação de madrugada”. No interior, um artigo faz um “apelo à calma e ao civismo”, sendo ilustrado com uma foto onde se veem dois soldados armados à porta do Rádio Clube Português onde o MFA emitia os seus comunicados. O “Diário de Notícias” opta por um registo mais sóbrio, colocando em capa o título “Eclodiu um movimento militar”, enquanto o “Diário de Lisboa” arrisca mais: “Movimento das Forças Armadas prosseguirá a sua ação libertadora”. Interessante o artigo intitulado “A população de Lisboa e o golpe militar” onde se fala de um “indescritível entusiasmo” e de “milhares de pessoas saudando os militares”.

A revolução estava da rua e mesmo jornais mais fiéis ao regime como o “Diário Popular”, a “Época” ou o “Jornal do Comércio” acabaram por rapidamente se adaptar à nova realidade. “O Século” colocou nesse dia em banca cinco edições. A última saiu às 22.30 horas, garantindo que estava “concretizada a queda do Governo”.

A norte, o “Jornal de Notícias”, em edição especial, anunciava o seguinte: “Movimento das Forças Armadas desencadeado em todo o país”. Mas seria no dia seguinte que a imprensa nortenha relatava os pormenores do sucedido. “O Comércio do Porto” proclamava o “êxito do golpe militar” e via crescer a sua tiragem de 30 mil para cem mil exemplares. A revolução mudou o país. E também o jornalismo que se fazia para um público ávido de notícias. Muita coisa mudou desde então.

QOSHE - O 25 de Abril através dos jornais - Felisbela Lopes
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O 25 de Abril através dos jornais

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05.04.2024

Procurar o 25 de Abril nos jornais que se publicaram em Portugal no dia da revolução é regressar a um tempo em que a imprensa tinha uma enorme centralidade. São imensos os títulos em banca naquela altura. Em cada artigo, sente-se um enorme desejo de liberdade.

Ainda que não fosse inteiramente factual, o vespertino “República”, o mais influente diário de oposição à ditadura não clandestino, anuncia logo na primeira edição o seguinte: “As Forças Armadas tomaram o poder”. As sucessivas edições, com a mesma manchete, consolidam a informação. Em rodapé, a Redação veicula outra informação: “este jornal não foi visado por qualquer comissão de censura”. Numa espécie de........

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