Em tempo de pré-campanha, os candidatos às eleições legislativas procuram, através dos debates televisivos, publicações nas redes sociais e deslocações previamente preparadas e pensadas em função da cobertura mediática, mostrar que são os mais bem preparados e que detêm as melhores propostas para governar o país. Este poder em cena que poderosas máquinas partidárias colocam diante de nós diz-nos pouco sobre a verdadeira capacidade de governação dos nossos políticos. Esta semana, “Candidatos/as”, um programa emitido em dois episódios na RTP (3), destapou o que os candidatos não conseguiram ocultar.

Uma das primeiras perguntas parecia simples: que diferença pode fazer como primeiro-ministro/a? Percorrendo as respostas, todos optaram por generalidades: dar esperança ao país, resolver os problemas, ter capacidade para fazer avançar, garantir um planeta mais saudável... Ninguém foi capaz de apontar uma política disruptiva, uma medida mais audaciosa, uma ideia mais criativa.

Nova pergunta: na iminência de um ataque nuclear o que faria? Respostas: proteger os meus, despedir-me dos entes queridos e rezar, ir para debaixo da mesa, não faço ideia, nunca pensei sobre isso... Apesar de ainda recentemente termos atravessado uma pandemia de dimensão global, surpreende a ausência de prioridade ou mesmo preparação para a eventualidade de inesperadas crises mundiais, sobretudo nas áreas ambiental, da saúde e da defesa.

Qual o maior fator de credibilidade? Apenas Pedro Nuno Santos e André Ventura apontaram o seu trabalho, independentemente dos juízos de valor que possamos fazer sobre cada um deles. Os outros falaram, acima de tudo, de perceções que os cidadãos constroem a partir de uma imagem projetada no espaço público. E isso tem, na verdade, um enorme significado político.

E qual o local escolhido por cada um dos candidatos a primeiro-ministro para ser confrontado com perguntas fora do guião habitual? Luís Montenegro e André Ventura ficaram na sede do partido apertados no tradicional fato e gravata; Pedro Nuno Santos deslocou-se ao Museu do Calçado em São João da Madeira, distrito de Aveiro, por onde é cabeça de lista; Rui Rocha optou por ficar engravatado na própria casa. Os outros preferiram sítios mais imprevisíveis: Mariana Mortágua escolheu a Biblioteca do Banco de Portugal; Rui Tavares, as instalações da Ephemera, a biblioteca e arquivo de Pacheco Pereira; Inês Sousa Real, o quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros D. Carlos I; e Paulo Raimundo foi até à Associação Cristã da Mocidade no Bairro da Bela Vista em Setúbal.

Este parece ser o tempo em que os candidatos à liderança do país, de tão prisioneiros dos guiões fabricados por profissionais da comunicação política, deixaram de ser genuínos. Uma escassez de autenticidade que certamente não aproxima os cidadãos do discurso político.

QOSHE - O que os candidatos (não) mostram - Felisbela Lopes
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O que os candidatos (não) mostram

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16.02.2024

Em tempo de pré-campanha, os candidatos às eleições legislativas procuram, através dos debates televisivos, publicações nas redes sociais e deslocações previamente preparadas e pensadas em função da cobertura mediática, mostrar que são os mais bem preparados e que detêm as melhores propostas para governar o país. Este poder em cena que poderosas máquinas partidárias colocam diante de nós diz-nos pouco sobre a verdadeira capacidade de governação dos nossos políticos. Esta semana, “Candidatos/as”, um programa emitido em dois episódios na RTP (3), destapou o que os candidatos não conseguiram ocultar.

Uma das primeiras perguntas parecia simples: que diferença pode fazer como primeiro-ministro/a?........

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