Num relatório extremamente duro, intitulado “Ninguém veio em nosso auxílio”, a organização Médicos sem Fronteiras responsabiliza a União Europeia pelas mortes no Mediterrâneo onde todos os dias perdem a vida oito pessoas que procuram chegar a porto seguro. Em vários países europeus, acumulam-se exemplos de retrocessos nas políticas de acolhimento aos (i)migrantes.

O discurso de vitória do líder do partido de Direita radical PVV Geert Wilders, que ganhou as eleições nos Países Baixos, é claro: “estamos fartos disto”, confessou, prometendo “parar o tsunami de migrantes”. Não é um caso isolado. A sete meses das eleições europeias, vários países endurecem a sua posição em relação a imigrantes vindos de África e do Médio Oriente.

Se a situação de Lampedusa pode funcionar como uma dolorosa metáfora da cegueira europeia face ao sofrimento dos (i)migrantes, os últimos dias têm somado exemplos de vários países que intensificam essa repulsa ao outro. E fazem-no através da criação de medidas mais repressivas ou de declarações radicais que seriam impensáveis até há pouco tempo.

No Reino Unido, o Governo Rishi Sunak tem procurado, através de iniciativas legislativas, fechar as portas aos imigrantes. Na passada semana, os juízes do Supremo Tribunal consideraram ilegal o programa para enviar os requerentes de asilo para o Ruanda, um plano considerado um pilar na luta contra a imigração. Os conservadores não desistiram dessa luta e preparam agora nova legislação ao mesmo tempo que erguem uma poderosa frente de pressão para o Reino Unido sair da Convenção Europeia dos Direitos Humanos.

Na Alemanha, Olaf Scholz meteu completamente na gaveta a política de integração da sua antecessora, que, em 2015, abriu o país a mais de um milhão de refugiados. Sem encontrar oposição visível, o chanceler alemão tem reduzido drasticamente as ajudas aos refugiados, apertado o controlo de fronteiras e intensificado os direitos das forças policiais para operações de recondução de migrantes às fronteiras do país.

Em França também se regista o mesmo movimento. Emmanuel Macron está preocupado com o crescimento da União Nacional de Marine le Pen e sabe que a bandeira dos imigrantes é muito sensível. Este mês, o Senado votou um projeto de lei que reforça o controlo da imigração, numa versão mais dura do que aquela desenhada pelo Governo francês, mas sem merecer grande contestação.

Face a esta conjuntura, os (i)migrantes podem recuperar o título do relatório dos Médicos sem Fronteiras: cada vez mais, há menos gente em auxílio de rotas migratórias que matam pessoas completamente indefesas. É preocupante.

QOSHE - Políticas para a (i)migração em retrocesso - Felisbela Lopes
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Políticas para a (i)migração em retrocesso

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24.11.2023

Num relatório extremamente duro, intitulado “Ninguém veio em nosso auxílio”, a organização Médicos sem Fronteiras responsabiliza a União Europeia pelas mortes no Mediterrâneo onde todos os dias perdem a vida oito pessoas que procuram chegar a porto seguro. Em vários países europeus, acumulam-se exemplos de retrocessos nas políticas de acolhimento aos (i)migrantes.

O discurso de vitória do líder do partido de Direita radical PVV Geert Wilders, que ganhou as eleições nos Países Baixos, é claro: “estamos fartos disto”, confessou, prometendo “parar o tsunami de migrantes”. Não é um caso isolado. A sete meses das eleições europeias, vários........

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