Quando na próxima semana tomarem posse, os novos deputados trarão consigo experiências políticas distintas. Uma (pequeníssima) parte passou os últimos anos em trabalho governativo; outra (muito maior), mesmo integrando listas partidárias, nunca imaginou que, um dia, se sentaria ali como parlamentar. Na oposição, estarão os partidos de quem se espera um confronto natural com o Governo e um outro, o Chega, que lutou por ser integrado numa solução governativa.

Apresentando uma configuração completamente nova, o Parlamento será, a partir de agora, um dos principais centros da vida política. Com um Governo minoritário, o equilíbrio de forças terá de ser negociado medida a medida. Neste contexto, ganha particular relevância o nome escolhido para ministro dos Assuntos Parlamentares. Para além de tática política, o novo governante deve ser hábil no diálogo partidário, quer à Esquerda, quer à Direita, tendo sempre presente que duas bancadas são possuidoras de um imprevisível interruptor que pode subitamente mandar o Governo abaixo. Também os novos governantes terão de se adaptar às exigências dos novos grupos parlamentares, disponibilizando-se para uma prestação de contas que será tudo menos retórica.

É inegável que uma bancada sobressairá, a do Chega, por vários motivos: pelo número de deputados eleitos; por se situar num campo algo próximo do Governo AD, mas estar ali num papel de oposição; pela estratégia e tática disruptivas que lhe são intrínsecas. Também a bancada do PS terá particularidades significativas: nela estarão ex-governantes com profundo conhecimento dos dossiers discutidos e um líder político que vai querer capitalizar poder simbólico que o habilite a estar preparado para eleições antecipadas. Nas outras bancadas estarão outros líderes partidários que procurarão também atrair para si alguma atenção que vá consolidando uma prova de vida que as eleições legislativas não foram capazes de atestar (com a exceção do Livre).

Nesta nova Assembleia da República, o jogo político terá nos média uma relevante base de construção das perceções sociais. O líder do Chega, muito crítico do Jornalismo, tem reiteradamente lembrado que a comunicação do seu partido se faz pelas redes sociais. No entanto, isso não subtrai a necessidade que temos de outro tipo de informação: rigorosa, imparcial, credível, distanciada dos factos que reporta, escrutinadora dos poderes instituídos. A esse nível, os jornalistas têm um papel insubstituível. E será sempre para o Jornalismo que nos voltaremos quando quisermos saber, com precisão, o que andam a fazer os 230 deputados que elegemos para este Parlamento.

QOSHE - Que Parlamento teremos? - Felisbela Lopes
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Que Parlamento teremos?

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22.03.2024

Quando na próxima semana tomarem posse, os novos deputados trarão consigo experiências políticas distintas. Uma (pequeníssima) parte passou os últimos anos em trabalho governativo; outra (muito maior), mesmo integrando listas partidárias, nunca imaginou que, um dia, se sentaria ali como parlamentar. Na oposição, estarão os partidos de quem se espera um confronto natural com o Governo e um outro, o Chega, que lutou por ser integrado numa solução governativa.

Apresentando uma configuração completamente nova, o Parlamento será, a partir de agora, um dos principais centros da vida política. Com um Governo minoritário, o equilíbrio de forças terá de ser........

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