O terramoto político que atingiu esta semana o Governo deve-se, em primeiro lugar, a alegados atos ilícitos. Todavia, há uma névoa que paira sobre o envolvimento do primeiro-ministro que deveria ser esclarecida, porque, na voragem de uma noticiabilidade intensa, nem sempre se distingue a verdade da especulação. Tendo em conta o bem público que é a estabilidade democrática, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deveria dar rapidamente explicações adicionais.

Quando terça-feira emitiu o comunicado em que escrevia que, no decurso das investigações, surgiu “o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do PM e da sua intervenção para desbloquear procedimentos”, o Gabinete de Imprensa da PGR estaria consciente do impacto que tal referência provocaria em S. Bento. O texto adiantou mais: “tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça”.

Uma informação desta gravidade carece naturalmente de mais desenvolvimento, devendo ser mais explícita quanto à participação do PM nos factos que já levaram à deteção de algumas pessoas e à constituição como arguidas de outras próximas de António Costa. O futuro do indicativo utilizado na frase que alude à instituição de um inquérito por parte do STJ adensa ainda mais as dúvidas que se instalaram. E isso é terrível quando vivemos um dos piores momentos da democracia portuguesa.

Não se espera que a PGR abra canais de diálogo permanente com os jornalistas. Isso prejudicaria decerto a investigação e não beneficiaria a opinião pública, porque rapidamente se criaria muito ruído à volta das mensagens emitidas. No entanto, uma comunicação parca também não ajuda ninguém. Nem mesmo a credibilidade do Ministério Público, que precisa hoje, mais do que nunca, da confiança de todos nós. Neste contexto, impõe-se que se esclareça sucinta e claramente o grau de conivência do PM com os factos investigados nesta operação.

Esta semana caiu estrondosamente um Governo ancorado por uma maioria absoluta. Nunca, como neste caso, houve, em pleno exercício de funções governativas, um caso desta amplitude. Ora, isso só pode ser explicado por uma gravidade inequívoca na atuação dos governantes em causa, a qual reclama uma explicação cabal. Porque seria intolerável um país confrontar-se, após esta gravíssima crise política, com outra crise no campo da justiça. Ambas causariam profundíssimas brechas nos pilares de uma democracia que se prepara para comemorar 50 anos

QOSHE - Um pedido à PGR - Felisbela Lopes
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Um pedido à PGR

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10.11.2023

O terramoto político que atingiu esta semana o Governo deve-se, em primeiro lugar, a alegados atos ilícitos. Todavia, há uma névoa que paira sobre o envolvimento do primeiro-ministro que deveria ser esclarecida, porque, na voragem de uma noticiabilidade intensa, nem sempre se distingue a verdade da especulação. Tendo em conta o bem público que é a estabilidade democrática, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deveria dar rapidamente explicações adicionais.

Quando terça-feira emitiu o comunicado em que escrevia que, no decurso das investigações, surgiu “o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da........

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