No passado dia 21 de Março, dia em que os estudantes portugueses fizeram ouvir bem alto o seu grito de revolta e de exigência por um Ensino Superior Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade, tivemos mais uma prova da força que a unidade dos estudantes e do Movimento Associativo Estudantil (MAE doravante) constrói.

A expressão dada nas ruas foi clara - os estudantes não permitirão recuos, não deixarão que gozem com a sua cara, não estarão ao lado das políticas que querem privatizar e mercantilizar (ainda mais) o Ensino Superior que é nosso por direito. Mas desenganem-se todos aqueles que acham que este caminho de luta se constrói de forma isolada, não debatendo posições, não procurando convergências onde elas podem, com o esforço que é preciso, existir.

É precisa a unidade e a convergência na luta em torno das questões em que ela é passível de ser conseguida, por várias ordens de razão.

Primeiro, porque é indesmentível que quanto mais estruturas do MAE e estudantes convergirem em torno das questões concretas que nos assolam todos os dias, mais sai enriquecida a nossa luta, mais percebemos que os problemas dos estudantes do ensino superior por todo o país são todos filhos da mesma mãe - o subfinanciamento crónico, a propina, o actual Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, entre muitos outros obstáculos que enfrentamos.

Segundo, porque ninguém pode não reconhecer a importância das grandes mobilizações de massas. Não será com certeza, única e exclusivamente com actos isolados em cada IES, ou em cada escola ou local de trabalho que conseguiremos obter o que seja. É na convergência, com um conjunto destas lutas, construídas dia a dia em cada sítio e na unidade em torno de questões concretas que se operam transformações. É perceber, que mesmo na divergência é possível encontrar caminhos para combater o que é antagónico. Alguém consegue negar que os momentos que mais ficam na história são, naturalmente, aqueles em que há mais estudantes nas ruas? Alguém consegue negar a imponência das grandes mobilizações de massas? Bem, conseguir até se pode conseguir, mas não se o faz sem incorrer em mentiras.

Terceiro, prova-o a história - a luta traz avanços. A luta, no plano do Ensino Superior, fez nascer o Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior (PNAES) e fará com que ele seja cumprido, fez a propina descer e fará com que ela acabe, é essa insistência, essa noção que não lhes sai da cabeça de que não daremos um passo atrás, que conquista cada avanço que temos e teremos no futuro.

É também por estas ordens de razão que é desonesto reduzir a luta dos estudantes às manifestações, nacionais ou não, que vão sendo realizadas todos os anos.

Quando falamos em luta não falamos só nas expressões de ruas, de massas, que em unidade conquistamos. Falamos também disso, é verdade. Mas falamos da dinâmica que impomos dentro de cada faculdade ou escola, do espírito reivindicativo que incutir e que temos de incutir ainda mais e em mais sítios, da confluência de experiências individualizadas, da força que a experiência concreta, quando somada a muitas outras adquire.

Os desafios estão aí todos. A propina continua, bem como as taxas e emolumentos. A acção social continua insuficiente. Faltam camas em residências públicas, milhares delas. Estamos sub representados nos órgãos de gestão das IES. Não vamos deixar esta luta para outros, vamos assumi-la e terão de levar connosco.

A luta continua a ser a única ferramenta transformadora de que os estudantes dispõem, e essa verdade é cada dia mais cristalina. Verdades como punhos dizem também aqueles que colocam no centro do debate uma questão fundamental para todos os grupos e sectores da sociedade, mas em particular para os estudantes - a unidade do movimento associativo estudantil não é apenas um elemento a ter em conta, é o elemento essencial nas lutas que são desenvolvidas. Alguns podem achar que não. Que isto vai lá ao compartimentar a luta, em desvalorizar ou até atacar a unidade, medindo o sucesso da luta pelos soundbytes que gera e pela quantidade de vezes que aparecem em horário nobre. Com latas de tinta e com cadeados podem os governos bem. Na luta organizada, consequente e em unidade é que a porca torçe o rabo. Aí dói. Aí é que se constrói o espírito do ganho colectivo que faz frente ao individualismo e ao salve-se quem puder. E por isso dizemos que os estudantes estão, efectivamente, condenados à unidade se querem avançar (e querem mesmo!).

QOSHE - Queremos Mais Abril Aqui - Guilherme Vaz
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Queremos Mais Abril Aqui

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24.04.2024

No passado dia 21 de Março, dia em que os estudantes portugueses fizeram ouvir bem alto o seu grito de revolta e de exigência por um Ensino Superior Público, Gratuito, Democrático e de Qualidade, tivemos mais uma prova da força que a unidade dos estudantes e do Movimento Associativo Estudantil (MAE doravante) constrói.

A expressão dada nas ruas foi clara - os estudantes não permitirão recuos, não deixarão que gozem com a sua cara, não estarão ao lado das políticas que querem privatizar e mercantilizar (ainda mais) o Ensino Superior que é nosso por direito. Mas desenganem-se todos aqueles que acham que este caminho de luta se constrói de forma isolada, não debatendo posições, não procurando convergências onde elas podem, com o esforço que é preciso, existir.

É precisa a unidade e a convergência na luta em torno das questões em que ela é passível de ser conseguida, por várias ordens de razão.

Primeiro, porque é indesmentível que quanto mais estruturas do MAE e estudantes convergirem em torno das questões concretas que nos assolam todos os dias, mais sai enriquecida a nossa luta, mais percebemos que........

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