Sabemos que o círculo vicioso é difícil de quebrar. A baixa escolaridade é um fator que aumenta o risco de pobreza. E crescer num ambiente desfavorecido dificulta o percurso escolar. Por mais que pareça evidente, é importante fundamentar em números a crueza da realidade: apenas 44,35% dos estudantes com o escalão máximo de ação social que completam o Ensino Secundário transitam para o Superior, e destes apenas 6% entram em cursos de excelência.

A análise à equidade é da responsabilidade da Direção-Geral do Ensino Superior, a propósito das recentes medidas de revisão do acesso, e mostra que sem o contingente prioritário criado para alunos do escalão A, estes ficariam de fora em metade dos cursos com nota superior a 17. Não se pense, contudo, que essa desvantagem de contexto os condiciona nos resultados. Uma vez na universidade, equiparam e nalguns indicadores até superam os não beneficiários. Ainda assim, têm uma taxa de abandono superior, por razões financeiras.

Terminar um curso superior é quase como completar uma corrida de barreiras, de tal forma são sucessivos os obstáculos que estes alunos vão enfrentando. Apesar de todas as avarias, a educação continua a ser o mais eficaz elevador social e a melhor arma para combater a nossa absurda taxa de pobreza. Já para não falar que é através da educação que se formam cidadãos mais ativos, críticos e capazes de agir sobre o Mundo.

Se a fusão dos ministérios da Educação e do Ensino Superior, até aqui autonomizados, significar, como assegura o novo ministro, um pensamento integrado de todos os níveis e graus de ensino, valorizando a educação como “elemento fundamental para a transformação da nossa sociedade” (para citar Fernando Alexandre), é disso que precisamos. Mas será necessária total eficácia para responder a tantos e tão diversos dossiês, sem retirar ao Ensino Superior o peso que efetivamente precisa de ter. A arrumação de pastas ministeriais não é meramente simbólica. Veremos se o superministro, conhecedor da Academia, conseguirá contrariar a sensação de que assistimos a um retrocesso.

QOSHE - As avarias no elevador social - Inês Cardoso
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As avarias no elevador social

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07.04.2024

Sabemos que o círculo vicioso é difícil de quebrar. A baixa escolaridade é um fator que aumenta o risco de pobreza. E crescer num ambiente desfavorecido dificulta o percurso escolar. Por mais que pareça evidente, é importante fundamentar em números a crueza da realidade: apenas 44,35% dos estudantes com o escalão máximo de ação social que completam o Ensino Secundário transitam para o Superior, e destes apenas 6% entram em cursos de excelência.

A análise à equidade é da responsabilidade da Direção-Geral do........

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