Durante dois dias, o “Jornal de Notícias” não chegou às bancas. A missão de um jornalista é dar notícias, mas a torrente de mensagens que nos chegaram de leitores, cronistas, quiosques e personalidades dos mais diversos quadrantes revela bem o quanto a vida da imprensa interessa e toca a todos. Não é por acaso que liberdade de expressão e de informação estão de mãos dadas constitucionalmente. O direito a informar e a ser informado, com rigor, transparência e liberdade, é um pilar democrático inequívoco.

Por casualidade, os dois dias de silêncio do JN coincidiram com o Conselho de Ministros descentralizado no Porto. Foram dias de acordos na área da descentralização e, entre outros exemplos, de assinatura dos contratos-programa entre o Governo e as cinco comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR), no âmbito da reforma que a custo tem tentado contrariar o pesado centralismo que caracteriza o país. Temos dado ao tema uma atenção ímpar, porque no JN a proximidade não é um chavão: é uma escolha diária.

Num tempo em que vivemos no meio de um turbilhão de comunicações, amplificado por tecnologias que têm tanto de potencialidade como de perigo, é urgente refletir sobre a crise que os media atravessam e o papel da informação verificada e sujeita a contraditório na formação de uma opinião pública esclarecida e crítica. É fácil o exercício de atirar pedras e apontar erros aos jornalistas, mais difícil procurar soluções para os fatores múltiplos que têm vindo a enfraquecer sucessivamente as redações, numa espiral negativa.

E se um dia esse estrangulamento tornar o jornalismo livre uma raridade? E se a velocidade e a aparência de total abertura nos impedirem de ver as ameaças ao pensamento plural e verdadeiramente informado? E se a falta de recursos e de jornalistas nos for retirando de junto das pessoas? E se uma parte do país, da realidade, da complexidade que nos cerca, começar a estar fora das notícias? Os silêncios falam, mas as palavras interessam mais à democracia.