Em 2024 o país vai duas vezes a votos ao mesmo tempo que comemora os 50 anos do 25 de Abril. Haverá mil e uma formas de refletir sobre as liberdades e todas elas estarão a ser trabalhadas por tantas entidades e iniciativas, mas na viragem para um novo ano escolho pensar sobre o direito de informação. Nos últimos meses quebrou-se a velha máxima de que os jornalistas não são notícia e esperemos que os próximos permitam uma reflexão séria sobre o papel da comunicação social na construção de uma democracia sólida e saudável.

O JN atravessa a pior crise de que temos memória e em torno dessa crise do grupo GMG, partilhada por títulos tão relevantes como a TSF ou “O Jogo”, gerou-se uma pressão mediática inédita. Há uma óbvia responsabilidade do poder político, que se quiser ser consequente com a preocupação que tem demonstrado terá de reavaliar o papel da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e encarar sem preconceitos o tema do financiamento. Mas há também uma preocupação que deve ser assumida coletivamente por todos os que acreditamos no poder da informação livre.

São muitas as perguntas que devem inquietar-nos. Devemos permitir que a comunicação social, já de si débil e concentrada em meia dúzia de grupos de informação, continue a enfraquecer-se aos olhos de todos sem uma real mudança de paradigma? Podemos confiar nos algoritmos que fazem das redes sociais um espaço supostamente livre onde tudo circula em aceleração, numa ilusão de acessibilidade que baralha mais do que informa? Quais as consequências de prescindir de regras como o exercício do contraditório e a verificação dos factos, já para não falar dos riscos de acabarmos de vez com a capacidade de investigação jornalística e desconhecermos o impacto da inteligência artificial no processo comunicativo?

O espaço que vai sendo desabitado pela informação rigorosa é rapidamente tomado pelos boatos, pelas fake news, pela manipulação, pelos soundbites, pelos comentários polarizados e pelos extremismos. É a informação livre que permite criar consciência crítica, cidadania ativa, pensamento fundamentado e alicerçado em factos. Abril deveria recordar-nos que o inverso da liberdade de expressão não é simplesmente a censura. Tudo o que mina a transparência, ainda que (ou sobretudo) de formas subtis, limita-nos. Estamos minados e é preciso coragem para procurar terreno seguro.

QOSHE - Liberdade e vigilância - Inês Cardoso
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Liberdade e vigilância

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31.12.2023

Em 2024 o país vai duas vezes a votos ao mesmo tempo que comemora os 50 anos do 25 de Abril. Haverá mil e uma formas de refletir sobre as liberdades e todas elas estarão a ser trabalhadas por tantas entidades e iniciativas, mas na viragem para um novo ano escolho pensar sobre o direito de informação. Nos últimos meses quebrou-se a velha máxima de que os jornalistas não são notícia e esperemos que os próximos permitam uma reflexão séria sobre o papel da comunicação social na construção de uma democracia sólida e saudável.

O JN atravessa a pior crise de que temos memória e em torno........

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