Depois de vários dias em que se limitou a dizer que estava a “avaliar as condições” para voltar a sentar-se com os sindicatos à mesa das negociações, o ministro da Saúde anunciou anteontem uma nova ronda na próxima quinta-feira. A hesitação, esgotando tempo do curto calendário do Governo em plenitude de funções, acaba por estreitar o caminho já de si cheio de pedras rumo a um eventual acordo.
É verdade que o Governo está politicamente morto, mas continua legalmente vivo e em plenitude de funções até à aprovação do Orçamento do Estado. Quer isto dizer que essa janela de oportunidade não deve ser aproveitada para fazer passar à pressa decisões polémicas ou que impliquem consensos alargados, mas não pode deixar de ser usada para resolver problemas críticos e que afetam a qualidade de vida das pessoas. Os eleitores sabem distinguir entre as duas coisas.
O mesmo princípio vale para reformas em curso, como os novos estatutos das comissões de coordenação e desenvolvimento regional (CCDR). No dia imediatamente após a demissão de António Costa, a ministra Ana Abrunhosa afirmou no Parlamento que o diploma estava acabado, mas agora o processo deverá ser “politicamente ponderado”. Acontece que esta mudança já deveria ter ocorrido, se o Governo não falhasse os seus próprios prazos, e não cabe no conceito de medidas para as quais deixa de haver condições políticas.
A caminho dos 50 anos do 25 de Abril, o Governo continua a falhar ao país num dos princípios prometidos constitucionalmente, a regionalização. Não houve - e provavelmente nunca haverá - condições para preservar o calendário de um referendo que chegou a ser apontado para 2024. Mas se, adicionalmente, deixarmos cair as tímidas tentativas de reformar os organismos regionais, estaremos definitivamente a desistir de combater um dos nossos piores pecados: o centralismo devorador, que esvazia metade do país e o deixa cada vez mais em lenta agonia.