Quando, amanhã, a ministra da Administração Interna se sentar em negociações com os representantes sindicais das forças de segurança, é quase certo que dificilmente evitará divergências e desencontro de vontades. É fácil de perceber porquê: na campanha eleitoral foram criadas expectativas elevadas e considerada legítima a valorização salarial imediata, mas as intervenções do Governo (incluindo o aviso de que as reivindicações de polícias e militares têm de ser vistas “em conjunto”) vão evidenciando pouca pressa de compromissos quanto a datas e valores.

Depois das críticas ao antecessor e da legitimidade que reconheceu às reivindicações, será difícil a Luís Montenegro justificar outra resposta que não seja a atribuição de um suplemento idêntico ao aplicado à PJ. Por mais que haja nuances nas missões ou na estrutura confusa de suplementos e subsídios de cada força, já não há espaço para essa análise fina. Fragilizado pela polémica em torno da redução do IRS, o Governo corre o risco de tropeçar nas suas próprias promessas.

O largo apoio que as forças de segurança têm merecido junto da opinião pública poderá, contudo, ser desperdiçado se for dado espaço às manobras de agitação do movimento inorgânico de polícias. Ultimatos como o lançado esta semana na carta distribuída entre os profissionais, com ameaças de boicote ao Rally de Portugal e alusões a baixas fraudulentas, põem em causa a confiança e a respeitabilidade institucional da PSP e da GNR.

A plataforma que congrega as estruturas sindicais demarcou-se da carta e das ameaças de protesto e não poderá deixar de se afirmar num caminho de responsabilidade e de respeito pelas negociações. Ou quem lidera a luta, com rosto e voz ativa, canaliza as exigências com sentido de Estado e em diálogo com os poderes instituídos, ou haverá o risco de vermos crescer mais uma frente perigosa de demagogia e extremismo, descredibilizando quem tem como missão proteger-nos dele. Como bem lembrava o diretor nacional da PSP, ameaças e ultimatos não são “postura de polícia”. Que a desmotivação não sirva de desculpa para trair os valores democráticos.

QOSHE - Promessas e traições à farda - Inês Cardoso
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Promessas e traições à farda

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21.04.2024

Quando, amanhã, a ministra da Administração Interna se sentar em negociações com os representantes sindicais das forças de segurança, é quase certo que dificilmente evitará divergências e desencontro de vontades. É fácil de perceber porquê: na campanha eleitoral foram criadas expectativas elevadas e considerada legítima a valorização salarial imediata, mas as intervenções do Governo (incluindo o aviso de que as reivindicações de polícias e militares têm de ser vistas “em conjunto”) vão evidenciando pouca pressa de........

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