Entrámos ontem na semana crucial para os católicos, com a celebração do Domingo de Ramos. Não apenas para os católicos, evidentemente, mas para todo um modo moral e civilizacional de conceber o Homem e a Cidade que, quer queiram, quer não, será sempre de Deus. Num mundo tomado pela “irreligiosidade”, ou em que, em nome dela, mata-se e estropia-se, aproveitar a Semana Santa para reflectir sobre o que se anda por cá a fazer é indispensável. Há, na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré um ponto fundamental de partida. É, verdadeiramente, “o” ponto de partida, o acontecimento permanente, o inesperado palpável que dá sentido à vida. Não, não estou a fazer proselitismo, nem “relativizo” a vida material. Certamente relativizo a mundanidade, e, para isso, nem preciso recorrer a autores católicos. Basta-me Oscar Wilde; a vida imita a arte. Mais, e ele que me desculpe, a vida cada vez mais imita o pior da própria vida que não é só, nem tão pouco, a má ou a pouca arte. Vejamos João, por exemplo. “Quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem (2:13-25). Repito o Evangelho: “Ele bem sabia o que há no homem”. Jamais, na história da humanidade, encontraremos maior entrega, maior sedução, maior disponibilidade, maior amor, maior despojamento apesar desse “saber”, desse conhecimento único do homem. E precisamente por causa dele. O escândalo da Cruz representa, pois, a essência da vida cristã que vence quotidianamente o mundo. Chamamos-lhe fé. Se o Senhor saiu e desceu para a noite do mundo, é porque, escreveu Ratzinger, “no confronto com a morte, é mais forte, e porque o seu amor leva o selo do amor de Deus que tem mais poder que as forças da destruição. É precisamente nessa saída, no caminho da Paixão, que está o acto da sua vitória. No mistério do Getsémani já está o mistério da alegria pascal. Ele é o mais forte, não há nenhum poder que possa resistir-Lhe e nenhum lugar onde Ele não esteja. Ele chama-nos a tentar a caminhada com Ele, porque onde houver fé e amor, aí estará Ele, aí estará a força da paz que supera o nada e a morte”.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - "Ele bem sabia o que há no homem" - João Gonçalves
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"Ele bem sabia o que há no homem"

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25.03.2024

Entrámos ontem na semana crucial para os católicos, com a celebração do Domingo de Ramos. Não apenas para os católicos, evidentemente, mas para todo um modo moral e civilizacional de conceber o Homem e a Cidade que, quer queiram, quer não, será sempre de Deus. Num mundo tomado pela “irreligiosidade”, ou em que, em nome dela, mata-se e estropia-se, aproveitar a Semana Santa para reflectir sobre o que se anda por cá a fazer é indispensável. Há, na vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré um ponto fundamental de partida. É, verdadeiramente, “o” ponto de partida, o acontecimento permanente, o inesperado........

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