Em política, reconhecidamente não existe razão retroactiva. Todavia, nós - o meu “nós” é um pouco presunçoso -, em 1979, tínhamos razão. A dada altura do processo político pós-Abril, um grupo de pessoas percebeu que era essencial para a evolução das coisas que a Direita fosse legitimada pelo voto popular em forma de Governo e, por consequência, obtivesse maioria parlamentar para governar. Acalmado o PSD, ao fim de quatro anos de grandes perturbações, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Ribeiro Telles, e uma multidão de “homens bons”, a maioria, aliás, oriunda do PS e de franjas próximas do PS, formam a Aliança Democrática. Com apenas dezoito anos, eu estava com os “Reformadores” do Medeiros Ferreira e do António Barreto. O “Manifesto” assinou um acordo bilateral com o PSD e reformadores e independentes integraram as listas da AD em 2 de Dezembro de 1979. Falo disto porque vai a votos, a 10 de Março, uma homónima política dessa AD, igualmente liderada pelo PSD, e que apoio. Não, evidentemente, porque me recorda a original. A AD de 1979 correspondeu a um acto fundador do regime decorrente do “25 de Abril”. Permitiu que a Esquerda não se apropriasse, em exclusivo, desse regime.

O que sobreveio a seguir é outra coisa. Mesmo à Direita, com Cavaco ou Passos Coelho. Pelo que esta AD é definitivamente outra coisa, e como tal deve e pode afirmar-se. Resiste a oito anos, antecedidos de uma catrefada deles, de domínio socialista do poder e da sociedade portugueses. Não é herdeira de nada, nem de ninguém, porque seria um perfeito disparate fazer comparações. Precisa de consolidação e de mais densidade políticas. Deve ser clara na circunstância de se traduzir na única alternativa consistente de um modo político, moral e cultural consistente e diferente daquele que o PS impôs ao país, afastando-o cada vez mais dos padrões médios da União Europeia. Exige-se-lhe coragem em descartar videirinhos, em abrir-se à famosa sociedade civil, sem demagogias. Em respeitar, e fazer respeitar, todas as gerações. À sua frente, está um homem que conheci enquanto líder de grupo parlamentar e que, acredito, é tributário convicto do interesse nacional. O caminho da AD, por causas próprias e alheias, não é fácil. A escolha é que é. Não existem terceiros nesta contenda. O PS chega a Março como a cabeça doente de Janus. Por um lado, no Governo demissionário. Por outro, no partido cujo secretário-geral abomina o primeiro, e vice-versa. Nada servem Portugal. Luís Montenegro não é de gritarias frívolas. É um homem felizmente tranquilo e imperfeito. Ainda bem.

*O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - A Direita viável - João Gonçalves
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A Direita viável

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22.01.2024

Em política, reconhecidamente não existe razão retroactiva. Todavia, nós - o meu “nós” é um pouco presunçoso -, em 1979, tínhamos razão. A dada altura do processo político pós-Abril, um grupo de pessoas percebeu que era essencial para a evolução das coisas que a Direita fosse legitimada pelo voto popular em forma de Governo e, por consequência, obtivesse maioria parlamentar para governar. Acalmado o PSD, ao fim de quatro anos de grandes perturbações, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Ribeiro Telles, e uma multidão de “homens bons”, a maioria, aliás, oriunda do PS e de franjas próximas do PS, formam a Aliança Democrática. Com apenas dezoito........

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