Quando comecei a escrever para este jornal, há mais de nove anos, e a convite de um amigo e “camarada” de outra grande aventura jornalística intitulada “Semanário”, o Afonso Camões, fiz questão de homenagear José Medeiros Ferreira através do título dado a estas crónicas: “Portugal em transe”. Fora de um livro seu, de 1985, precisamente quando sucedeu uma mudança importante na vida política do país. Aníbal Cavaco Silva formava o primeiro Governo minoritário que rompeu um curto ciclo de “Bloco Central”, patriótico e simultaneamente europeu, digamos assim, fundando, com décadas de atraso, o terceiro “D” do programa do MFA: o do “desenvolvimento”. O Medeiros dizia que o mais importante era a preservação das liberdades públicas e a virtude política da lucidez, mais, até, que a da coragem. Estivemos juntos no Movimento Reformador de 1979. Queríamos a evolução do regime e a flexibilização do sistema económico, numa altura tão marcada pela “ideologia”. A tirania fantasiosa da ideologia. Talvez por isso, estas crónicas reflectiram permanentemente uma “contra-ideologia”, sem serem assépticas, favorável a uma sociedade infinitamente mais aberta que aquela desejada, e, em tantos aspectos, concretizada pelas esquerdas. Por outro lado, entendo que a Direita não pode, no seu combate político, abdicar dos seus valores, por pusilanimidade ou temor reverencial, e de colocar a par com o primeiro o combate cultural e do espírito. Se Aristóteles defendia sermos o que fazemos, não é menos verdade que acção política sem ética está condenada, mais tarde ou mais cedo, ao fracasso. O julgamento público dessa acção política é, no mundo contemporâneo, instantâneo. Não quer significar que seja justo. Mas é preciso darmo-nos conta desse risco e dessa oportunidade. Apoiante desde a sua constituição da Aliança Democrática, como igualmente aqui não se escondeu, colocou-se-me a possibilidade de colaborar, directa e internamente, com o XXIV Governo Constitucional empossado na semana passada. O desafio que o Governo defronta - e que lança ao país e ao quadro político-partidário parlamentar decorrente das últimas eleições - é suficientemente interessante e complexo para que se possa e deva levar a sério uma cumplicidade activa com tal desafio e responsabilidade. Lucidez, repito, e responsabilidade são as palavras-chave para os próximos tempos. Nenhum agente político deve fugir delas. Agradeço ao Afonso Camões, ao Domingos Andrade e à Inês Cardoso terem-me aturado. A todos os trabalhadores do “Jornal de Notícias”, sem excepção, desejo as maiores venturas nesta, também, nova fase da vida deste histórico matutino. Até sempre.

o autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Até sempre - João Gonçalves
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Até sempre

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08.04.2024

Quando comecei a escrever para este jornal, há mais de nove anos, e a convite de um amigo e “camarada” de outra grande aventura jornalística intitulada “Semanário”, o Afonso Camões, fiz questão de homenagear José Medeiros Ferreira através do título dado a estas crónicas: “Portugal em transe”. Fora de um livro seu, de 1985, precisamente quando sucedeu uma mudança importante na vida política do país. Aníbal Cavaco Silva formava o primeiro Governo minoritário que rompeu um curto ciclo de “Bloco Central”, patriótico e simultaneamente europeu, digamos assim, fundando, com décadas de atraso, o terceiro “D” do programa do MFA: o do “desenvolvimento”. O........

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