Mal se constituiu a “solução” politicamente estulta de 2015, em torno do PS e dos seus aliados à Esquerda, ocupei dezenas e dezenas destas crónicas a criticar a “solução” e, muito particularmente, os governos que gerou. Aqui afirmei variadíssimas vezes que o último desses três governos, o da maioria absoluta, era o pior. A maioria absoluta do PS não foi condição, nem necessária, nem suficiente para afirmar um impulso e uma direcção à vida do país. Pelo contrário, terminou com o primeiro-ministro a desistir dela por um motivo frívolo. Ou seja, e passe a pretensão, que é nenhuma, tentei dizer aos meus leitores o que é que não - sublinho o “não” - se devia fazer quando se governa uma sociedade complexa, periférica e remediada (em muitos casos, infelizmente, pobre ou mesmo paupérrima), como se o Executivo constituísse um permanente improviso organizado e, por tantos episódios, uma torre de Babel invertida. Não escondo, pois, apoiar o governo minoritário de Luís Montenegro que toma posse amanhã. Faço-o com a minha endémica esperança desesperada. Primeiro, porque a coragem tranquila e ponderada do novo chefe do Executivo me dá essa esperança. Aborrece ele não ser tagarela? Se há coisa que o país tem tido como “excedente” é precisamente a tagarelice. Depois, não precisa em nada disso para enfrentar os problemas nacionais e levar a cabo, nas palavras de Vasco Pulido Valente, em um outro contexto, “um conjunto lógico, perceptível e politicamente orientado” de acções, traduzido num programa governativo realista e pouco “ideológico” no qual as pessoas se revejam. Não apenas o colectivo abstracto, mas cada um de nós, na sua “eminente dignidade” a qual os derradeiros anos quase transformaram numa fantasia para agrados puramente espectaculares, agitação e propaganda. Em terceiro lugar, e com a integridade cívica e moral que se deve exigir - o Governo existe para defender única e exclusivamente o interesse público e o Estado português -, persiste essencial que todo o Executivo se compenetre que vai ser o primeiro responsável pela iniciativa política e pela acção reformadora em ambiente parlamentar difícil e desafiante. Confrontar todos com as respectivas responsabilidades políticas decorrentes do voto popular, o que é bem distinto de afrontar ou apoucar as oposições como no passado recente de mau exemplo. Dito de outra forma, mais do que “técnicos” os membros do Governo, e os grupos parlamentares que o suportam directamente, são os primeiros agentes da acção política concreta. Não há ministros “mais” políticos que outros. Se não o forem todos, não é nenhum. Bom-dia e boa sorte.

*o autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Bom-dia e boa sorte - João Gonçalves
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Bom-dia e boa sorte

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01.04.2024

Mal se constituiu a “solução” politicamente estulta de 2015, em torno do PS e dos seus aliados à Esquerda, ocupei dezenas e dezenas destas crónicas a criticar a “solução” e, muito particularmente, os governos que gerou. Aqui afirmei variadíssimas vezes que o último desses três governos, o da maioria absoluta, era o pior. A maioria absoluta do PS não foi condição, nem necessária, nem suficiente para afirmar um impulso e uma direcção à vida do país. Pelo contrário, terminou com o primeiro-ministro a desistir dela por um motivo frívolo. Ou seja, e passe a pretensão, que é nenhuma, tentei dizer aos meus leitores o que é que não - sublinho o “não” - se........

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