Estamos a escassos dias de mais umas eleições legislativas. Qualquer eleição, seja para o que for, não sendo legalmente obrigatória, é-o pelo menos moralmente. Se eu quiser, como devo, criticar o regime, e o sistema que permite que o regime funcione, não posso alhear-me das opções concretas que posso fazer quando voto. Vota-se essencialmente para uma de duas coisas. Para manter uma “situação”, o que está, ou para mudar o que está. Em linguagem chã, para mudar de vida. Em oito anos, assistimos a três eleições parlamentares, logo, a três governos, todos com a mesma chancela: o Partido Socialista. Começou numa jogada de secretaria, depois de uma derrota nas urnas, e acabou numa maioria absoluta, cujo chefe e primeiro responsável directo, António Costa, despejou pela janela a pretexto de uma frase. O que torna extraordinário apresentar-se o referido Costa como um “modelo” virtuoso da acção política. O homem fez tábua rasa dos votos que lhe outorgaram, e abriu uma crise que vamos ver como, e se, termina no próximo domingo. O partido de que foi secretário-geral, não contente com tamanhas frivolidade e irresponsabilidade políticas, arranjou, para o substituir, alguém que o referido Costa despedira do Governo um ano antes. E despedira-o porque Pedro Nuno Santos não faz, nem nunca fez, a menor ideia do que seja o interesse público, como a gestão técnico-política que perpetrou nos dossiês das infraestruturas - transporte aéreo, ferrovia e habitação - demonstrou. Imaginá-lo primeiro-ministro é juntar numa só laracha a lei de Murphy e o famoso “princípio de Peter”. Peter/Pedro, como escreveu Cavaco Silva no “Correio da Manhã”, não cumpre minimamente as qualidades, nem exibe comportamento digno de um PM “para que o Governo tenha sucesso”. Um partido que desistiu estrondosamente de governar, desprezando a confiança do voto popular, quer agora governar o quê e quem? Um partido que apenas olha para o seu umbigo, e para a sobrevivência dos interesses que instalou e representa, espera respeito? Um partido que se assemelha cada vez mais à defunta União Nacional - caciqueiro, manipulador e “dono” do sistema político e comunicacional - julgará que somos todos parvos? Mudemos, pois, de vida. Votar também é um acto cultural e moral. Neste momento nacional, citando novamente Cavaco Silva, “qualquer voto que não seja na Aliança Democrática é desperdiçar uma oportunidade de mudança”. Pense nisto, amigo leitor. Mude de vida.

*O autor escreve segundo a antiga ortografia

QOSHE - Mude de vida - João Gonçalves
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Mude de vida

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04.03.2024

Estamos a escassos dias de mais umas eleições legislativas. Qualquer eleição, seja para o que for, não sendo legalmente obrigatória, é-o pelo menos moralmente. Se eu quiser, como devo, criticar o regime, e o sistema que permite que o regime funcione, não posso alhear-me das opções concretas que posso fazer quando voto. Vota-se essencialmente para uma de duas coisas. Para manter uma “situação”, o que está, ou para mudar o que está. Em linguagem chã, para mudar de vida. Em oito anos, assistimos a três eleições parlamentares, logo, a três governos, todos com a mesma chancela: o Partido Socialista. Começou numa jogada de........

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